Transgressão

Introdução

Transgressão - "Ação de transgredir, contravir a uma ordem, a uma lei; violação; infração"
Muitas das confusões e depressões sentidas por adolescentes são causadas pela mudança para o mundo adulto no qual as responsabilidades e os relacionamentos são bem diferentes dos conhecidos na infância. Os adolescentes não são mais crianças, todavia ainda não estão inteiramente na fase adulta.
A adolescência é um período de descobertas e questionamentos sobre o que é certo e errado, e o modo com que cada adolescente lida com isso depende de várias coisas. Alguns jovens se revoltam por serem tratados como crianças e às vezes reagem com indisciplina, raiva e rebeldia. E então passam a transgredir a todo momento.
Os jovens se prendem a certos ideais a medida que crescem. Mas, na adolescência estes ideais entram em choque com as duras realidades do mundo. Eles vêem tragédias humanas em toda parte. Descobrem a inconsistência e a hipocrisia nos modelos à sua volta. Sofrem desilusões com instituições tais como: religião, política, o sistema escolar e as relações familiares. E então se rebelam ou se retraem ou se refugiam no álcool e nas drogas. Começam a burlar normas impostas pelos adultos e criam o seu espaço próprio onde tudo é permitido. Seu maior prazer é fazer o proibido, desde pisar na grama até beber e usar drogas.

As causas dessa vontade constante de violação são:

  • A auto-afirmação - quando o adolescente se recusa a obedecer, tornando-se um contestador. Ele quer, de todas as formas, mostrar que é bom, que pode tudo e é imbatível.
  • Ir contra a sociedade - o adolescente se revolta contra os costumes e as leis da sociedade. Ele se acha o "dono da verdade"; todos estão errados e somente ele está certo.
  • Contrariar os pais - o adolescente necessita demais da atenção dos pais, fazendo de tudo para ser notado e querendo ser o centro do mundo. Às vezes, quando se tem irmãos, o jovem deseja concentrar a preocupação da mãe e do pai nele para se sentir mais seguro e forte.
  • Mimetismo - o adolescente não tem coragem de assumir suas diferenças e tende a imitar os outros que, para ele, aparentemente, são mais espertos, alegres e extrovertidos. Para se integrar, ele passa a fazer parte de gangues, beber ou se drogar.
  • Pressão dos amigos - quando o grupo influencia, pressionando e ameaçando o adolescente.
  • A procura de novas sensações - o jovem gosta de novidades, está sempre testando para saber aonde pode chegar.
  • Ansiedade - causada por problemas na escola, por pressão da família e pelas decisões que precisam ser tomadas, como por exemplo que profissão seguir.

    São várias as maneiras que o jovem encontra para infringir regras:

  • Dirigir sem carteira de motorista;
  • Consumir drogas leves e pesadas;
  • Falsificar carteira de identidade a fim de entrar em lugares proibidos para menores e comprar bebidas alcoólicas;
  • "Matar" aulas;
  • Desrespeitar os pais, professores e autoridades;
  • Arrumar brigas na escola e em lugares públicos;
  • Destruir telefones públicos, lâmpadas dos postes de rua, cadeiras e mesas de escolas;
  • Pichar muros e paredes;
  • Escrever palavras obscenas em banheiros públicos;
  • Formar gangues de acordo com a arte marcial que pratica ou do lugar onde mora;
  • Fazer "pega" de carro;
  • Cometer pequenos furtos em supermercados, lojas de conveniência e lojas de departamento;
  • Não cumprir as normas da boa educação;
  • Mentir e enganar os pais;
  • Ser promíscuo, namorar mais de uma pessoa ao mesmo tempo;
  • Humilhar os mais pobres, os negros e os portadores de deficiência física;
  • Falta de higiene pessoal; entre outros.


    As Drogas

    "Droga é qualquer substância química que, ao penetrar no organismo humano, entra diretamente na corrente sangüínea, atinge o cérebro e pode alterar o corpo ou a mente do indivíduo."
    O consumo de drogas, naturais e sintéticas, é definido como toxicomania, ou seja, um estado de intoxicação periódico ou crônico nocivo ao indivíduo e à sociedade.

    São características da toxicomania:

  • Desejo ou necessidade de continuar consumindo a droga e de procurá-la por todos os meios;
  • Tendência de aumentar a dose;
  • Dependência de ordem psíquica ou física.
    As drogas podem afetar o adolescente de várias maneiras, como nos aspectos físico, mental, crônico, etc. O seu uso abusivo pode levar o usuário a um descontrole de seu consumo e gerar dependência, podendo causar um desequilíbrio em sua vida.
    A dependência a uma droga é o estado de necessidade física e/ou psíquica à mesma.
    Por dependência psíquica entende-se aquela que afeta apenas o psiquis-mo do indivíduo, não se desenvolvendo tolerância (necessidade de aumento da dose). Quando a dependência é apenas psíquica, há desejo psicológico de uso de drogas, mas não há a necessidade incontrolável.
    Já a dependência física afeta o indivíduo, produz tolerância e necessidade incontrolável de uso da droga. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a dependência física é o estado de adaptação que se manifesta pelo aparecimento de profundas modificações físicas quando se interrompe a administração do medicamento ou droga. Isto quer dizer que, quando o usuário é dependente de uma droga e deixa de usá-la, o seu organismo sofre alterações que podem acarretar até a morte.
    Os adolescentes apresentam uma mudança hormonal significativa. Quando entra uma droga no seu corpo é como se fosse um laboratoriozinho: parece explodir. Assim, mais ou menos, acontece com os jovens quando ingerem drogas, numa fase de muita mudança química no corpo.

    Cada droga em particular tem efeitos próprios, mas podemos sistematizar alguns efeitos gerais:

  • Alterações do sistema nervoso central;
  • Alterações sexuais - as drogas produzem exarcebações do libido ou o contrário;
  • Desequilíbrio orgânico - o uso de drogas afeta todas as partes do organismo. Promove alterações respiratórias e circulatórias. O viciado com o tempo adquire aspecto próprio tornando-se pálido, com os olhos esbugalhados e sinais de envelhecimento precoce;
  • Convulsão e desagregação mental - no início o adolescente experimenta excitação da memória e aclaramento de idéias e isso o anima a continuar. Mais tarde aparece apatia psíquica, embotamento, idiotice e psicoses.
    Além do que já foi citado, a droga gera uma problemática social; o viciado torna-se desajustado socialmente. Ainda pode levar o dependente a sérios problemas com os traficantes e com as autoridades policiais e judiciais.
    Mundialmente, as drogas estão classificadas em dois grupos: as lícitas (legais) e as ilícitas (ilegais). Erradamente, quando se fala em drogas, a maioria das pessoas só pensa nas ilícitas, como a maconha e a cocaína. Nunca nas lícitas: tabaco, álcool e remédios.
    Segundo o vice-presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes do Rio de Janeiro (CONEN), Sr. Aurélio Santo Sé, existe uma geopolítica das drogas, onde as ilícitas têm o seu poder econômico, ou seja, são produzidas nos países do 3º Mundo e as lícitas, nos países do 1º Mundo.
    Sendo o Brasil um país de 3º Mundo, é, portanto, produtor de drogas ilícitas e, por isto, estão previstas na Constituição leis que têm como objetivo evitar o consumo das mesmas.

    Por quê o adolescente se envolve com as drogas? Por quê um jovem de apenas 14 ou 15 anos começa a trilhar o caminho da toxicomania?

    Além dos motivos citados na introdução do trabalho, há, no caso do uso de drogas, um fator muito importante que é a fuga da realidade. O jovem quando vira adolescente se decepciona, pois nada é como ele pensava, então decide entrar no mundo do tóxico. Viver no mundo real não lhe interessa mais. A irrealidade é seu universo, onde tudo é mais colorido e onde se acha respostas para todos os problemas.
    Inquéritos feitos entre jovens mostram que, em sua maioria, foram levados a primeira experiência com tóxicos por curiosidade. Ressaltam também o papel dos amigos que influenciam no consumo das drogas.
    "A informação que a televisão, os pais e os educadores passam é de que a droga mata, é uma coisa horrível, deixa dependente. Mas já o amigo do clube, da escola, do condomínio diz que não é nada disso, que é bom e dá segurança. Então o jovem fica curioso, com dúvidas, e resolve experimentar. No dia seguinte, ele vê que não morreu e nem ficou dependente e passa a acreditar no amigo, lógico. Aí mora o perigo... O jovem passa a procurar nas drogas aquilo que não existe. O uso constante poderá torná-lo doente, dependente de doses cada vez maiores e de drogas mais fortes. Isto pode levá-lo até ao suicídio.
    Parece que, hoje em dia, as pessoas não têm noção de que as drogas fazem mal e que não é bom usá-las. O jovem precisa de uma cervejinha para bater papo, fumar um "baseado" para ver um show... Ele está sem noção da cobrança que vai vir mais tarde, em função deste uso de drogas." - depoimento de Aurélio Santo Sé (CONEN)
    Tomar uma droga é um substituto para a satisfação que uma atividade bem sucedida traz. Uma visita a qualquer rua à noite, mostra rapidamente que a droga é freqüentemente o "prêmio consolação" para muitos jovens insatisfeitos.

    A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera como mais propensa ao uso das drogas o adolescente:

  • sem adequadas informações sobre o efeito das drogas;
  • com saúde deficiente;
  • insatisfeito com sua qualidade de vida;
  • com personalidade deficientemente integrada;
  • com fácil acesso às drogas.

    Em contrapartida, o adolescente com menor possibilidade de utilizar drogas seria aquele:

  • bem informado;
  • com boa saúde;
  • com qualidade de vida satisfatória;
  • bem integrado na família e na sociedade;
  • com difícil acesso às drogas.

    Observamos no filme Defensores da Terra em a Batalha Contra as Drogas, que, de uma maneira geral:
    1º - O usuário pode ter tremores, perda de memória, alucinações, sentimentos extremos (sentir-se muito genial ou deprimir-se), muita distração;
    2º - No início, ele acha que as drogas não lhe farão mal;
    3º - O adolescente passa a ter problemas na escola,torna-se confuso e tem dificuldades de aceitar ajuda.
    Curitiba é a capital brasileira que, nos últimos três anos, apresentou maior crescimento no consumo de drogas entre os jovens. Atualmente, 20% dos curitibanos que têm entre 12 e 25 anos utilizam algum tipo de entorpecente. A avaliação é do CONEN, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania.
    O secretário executivo do CONEN, Olien Zetola, explica que hoje a segmentação existente no consumo criou uma droga característica para cada camada social. Para Zetola, a solução desse problema passa pela organização da sociedade, participando de um processo de prevenção pela educação. "O que contribui para o aumento de consumo em Curitiba é a situação geográfica; a constante chegada de imigrantes, atraídos pela imagem de "Primeiro Mundo" e trazendo consigo novas drogas; e o fácil acesso que os jovens têm aos traficantes."
    Segundo o médico psicanalista Géo Marques Filho, diretor da Clínica Porto Seguro, o uso de entorpecentes ou de algum tipo de subterfúgio para evitar a dor mental, sempre esteve presente na sociedade. "Hoje, a questão das drogas tem sido colocada em maior relevo, em parte pela maior consciência sobre a questão e em parte pela maior difusão e uso abusivo."
    No folheto do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (CEBRID), está escrito que as drogas psicotrópicas, isto é, que atuam sobre o cérebro alterando de alguma maneira o nosso psiquismo, podem ser classificadas em três grupos, de acordo com a atividade que exercem junto ao nosso cérebro:

    Psicolépticos ou depressores da atividade do Sistema Nervoso Central

    São drogas que diminuem a atividade mental. Induzem tranqüilização e sedação combatendo a tensão emocional e os estados de angústia. Podem ser neurolípticos e sedativos.
  • álcool;
  • soníferos ou hipnóticos (drogas que promovem o sono), barbitúricos, alguns bensoazepínicos;
  • ansiolíticos (acalmam, inibem a ansiedade);
  • as principais drogas pertencentes a esta classificação são os benzodiazepínicos. Exemplo: Diazepan, Lorozepan, etc;
  • opiácios ou narcóticos (aliviam a dor e dão sonolência). Exemplo: Morfina, Heroína, Codeína, Meperidina, etc;
  • inalantes ou solventes (colas, tintas, removedores);
  • Cloropromazina, levopromazina, procorperazina, haloperodol;
  • Meprobamato, clordiazepóxido, mafenezina.

    Psicoanalépticos ou estimulantes da atividade do SNC

    Distribuem-se em dois grupos: psicotônicos e euforizantes. Os psicotônicos têm ação antagônica a dos depressores do sistema nervoso, sendo também dotados de ação energizante, anti-astênica e estimuladora. Os euforizantes são drogas que estimulam, mas depois deprimem a atividade psíquica.
  • anorexígenos (diminuem a fome);
  • as principais drogas pertencentes a esta classificação são as anfetaminas. Exemplo: Dietilpropina, Fenproporex, etc;
  • cocaína;
  • piprador, imipramina;
  • álcool etílico, ópio.

    Psicodislépticos ou perturbadores da atividade do SNC

    Caracterizam-se por produzir em pessoas normais alucinações ou despersonalização, levando a alterações do comportamento. Dividem-se em dois grupos: alucinógenos e despersonalizantes.
  • De origem vegetal:
    - mescalina ( de cacto mexicano);
    - THC (da maconha);
    - psilocibina (de certos cogumelos);
    - lírio ou trombeteira ou zabumba ou saia branca;
    - mexalona, banisterina, bufoyrmina.
  • De origem sintética:
    - LSD-25;
    - "êxtase";
    - anticolinérgicos [ Artane (R), Benty (R) ].

    Formas de consumo de drogas:
  • Via oral (Ex: comprimidos e bebidas)
  • Intravenoso (drogas injetáveis)
  • Via nasal (Ex: cocaína e cola)

    Tipos de usuários:

    Segundo a UNESCO, são quatro os tipos de usuários:

  • Experimentador - aquele que usa uma ou poucas vezes vários tipos de droga, por curiosidade, pressão do grupo de amigos, em geral logo abandonando-as. Muitos adolescentes estão nesse caso;
  • Ocasional - usa somente quando tem a droga disponível. Numa festinha, por exemplo, ou na casa de um amigo;
  • Habitual - já apresenta dependência, precisa da droga, mas ainda não apresenta rupturas sociais importantes (por ruptura social entende-se deixar de ter atividades habituais como namorar, praticar esportes, estudar, trabalhar...);
  • Dependente - vive apenas para o consumo da(s) droga(s) que utiliza. Apresenta rompimento forte dos vínculos sociais, tendendo à marginalização e ao isolamento. Em geral, já começa a apresentar sintomas de dependência física e moral. Fase na qual todos os métodos são válidos para conseguir a droga.
    Tipos de drogas quanto ao custo:
    Essa classificação, obviamente, refere-se ao custo de venda da droga:
  • Droga dos ricos - também chamadas de drogas do Primeiro Mundo ou da opulência, são consumidas pela faixa social de alta renda basicamente. São algumas delas: cocaína, calmantes, LSD, ecstasy, anfetaminas;
  • Drogas da miséria - crack, heroína, inalantes (cola de sapateiro, éter, gasolina), codeína.
    O álcool, a maconha, a nicotina, a cafeína e os barbitúricos têm presença constante em todas as classes sociais, sendo que alguns desses têm aceitação da sociedade, sendo considerados drogas apenas em casos extremos.

    A Organização Mundial de Saúde considera o uso compulsivo de drogas uma "doença" - a dependência química. O usuário abusivo de drogas é alguém que está doente, não é um depravado, um sem- vergonha, um fraco de caráter.
    "No mundo atual, os adolescentes estão sujeitos a grandes tensões e procuram prazer e alívio através do uso de álcool, do fumo, da superalimentação, de tóxicos e mesmo da promiscuidade sexual." - depoimento de Ayrton Marcondez (Programas de Saúde - Atual Editora, 1983)
    As drogas, principalmente as consideradas leves como a maconha e o skank, têm uma importante função social para os adolescentes . Eles se reúnem periodicamente para fumar, sentindo- se assim parte de um grupo, uma espécie de clã. Sentem-se protegidos e têm nos seus "amigos de droga" um suporte para as inseguranças e fraquezas vividas nessa etapa da vida tão conturbada.


    ÁLCOOL

    Quando falamos da ameaça das drogas que nossos jovens enfrentam no mundo atualmente, geralmente imaginamos algum traficante desleixado, abordando algum jovem indefeso numa rua escura, longe de casa... Mas, por incrível que pareça, existe uma droga que permitimos entrar em nosso lar. Fazem-na parecer luxuosa e romântica. E os adolescentes assimilam uma mensagem: pessoas saudáveis e divertidas jamais dizem "simplesmente não" quando enfrentam esta droga.
    Ela é a droga capaz de alterar os sentidos que mais vicia no mundo, se medirmos isso em termos do número de pessoas viciadas na substância. Ela é anunciada livremente em todo a mídia; é promovida nas rádios, televisões, revistas e outdoor. É exibida nessas propagandas como um prêmio por um serviço bem feito, uma parte essencial da boa vida, a companheira natural do sucesso financeiro e das grandes decisões. Esta
    droga é o álcool.
    Assim como a cocaína e a heroína, o álcool é uma droga. Ele pode alterar o comportamento, causar modificações físicas e tornar-se um vício. E no entanto, esta droga fica fora das discussões de políticos sobre problemas de uso de narcóticos. É também a droga menos provável de ser censurada pela mídia. Por quê? A resposta é muito simples e perturbadora. O álcool é um grande negócio. A indústria do álcool gera uma receita de milhões de reais. Mais do que o produto interno bruto de muitos países menores. Através da propaganda e do marketing, esta indústria multinacional cria imagens sedutoras das bebidas alcoólicas e procura esconder do público que o álcool é uma droga, causadora de doenças, que com o tempo destrói e vicia.
    O mais ultrajante de tudo, talvez, é que as cervejarias e outras fábricas de bebidas alcoólicas conseguem patrocinar os grandes eventos esportivos e concertos de rock que atraem enormes platéias de jovens.

    O alcoolismo é um termo usado para denominar o efeito de bebidas alcoólicas sobre o organismo. É uma doença que se manifesta principalmente na maneira incontrolada de beber da vítima, a quem se dá o nome de alcoólatra. A definição de alcoólatra da OMS é a seguinte: "analisando os fatores etimológicos, genéticos, sociais, culturais, econômicos e religiosos, alcoólatras são bebedores excessivos, cuja dependência perante o álcool é tal que eles apresentam distúrbios mentais definidos, com seu comportamento social e econômico, com distúrbios afetivos deste gênero, devendo ser submetidos a tratamento."
    Mais de três drinques por dia, em poucas semanas, causam mudanças destrutivas no adolescente. (30 ml de licor, 118 ml de vinho, 355 ml de cerveja são considerados um drinque.)
    A fuga à ansiedade é elemento básico na inclinação para o alcoolismo. O alcoólatra é um indivíduo que prefere o entorpecimento da consciência à sobriedade, fugindo assim às suas responsabilidades.
    O álcool é absorvido pelo corpo através do estômago e do intestino e age fundamentalmente sobre o SNC embora tenha ação sobre outras partes do organismo, como, o fígado por exemplo.
    Ao contrário do que geralmente se pensa o álcool pode ser depressivo ou estimulante, e na maioria das vezes ele funciona como um depressor da atividade do SNC.

    Sinais de uso

    Falta de parâmetros no comportamento, diminuição do autocontrole, falta de coordenação motora, reações mais lentas, fala enrolada, às vezes perda de consciência, diminuição das funções mentais, como a capacidade de reagir, de aprender e de tomar decisões, perda de produtividade na escola e no trabalho.

    Efeitos a longo prazo

    Cérebro - Destruição permanente de células nervosas, perda de memória, confusão mental.
    Coração - Pressão alta, aumento das batidas do coração.
    Fígado - Atrofia acentuada e grande probabilidade de infecção.
    Órgão sexual - Impotência (impossibilidade de manter relações sexuais) e infertilidade.
    Pâncreas / intestino - Inflamação e diarréia.
    Estômago - Inflamação e úlcera.
    Músculos - Fraqueza e perda de tecido adiposo.

    Se a dosagem de álcool for alta e ingerida por muito tempo o usuário pode chegar a ter convulsão, após alucinações. Porém, ao interromper a ingestão desta droga poderá aparecer a mais grave manifestação da Síndrome de Abstinência, ou seja, o delirium tremens ou DT.
    Durante o DT as alucinações reaparecem e de forma muito aterrorizante e realista (o alcoólatra vê animais e tem a sensação, em lugares fechados, de que as paredes se movem indo ao seu encontro). A temperatura do corpo sobe e a pessoa fica muito agitada. Se o sistema do organismo que controla a pressão sangüínea já estiver muito afetado, o DT pode provocar a morte.
    O álcool é uma droga potente e amplamente usada que se tornou causadora da 3ª doença que mais mata no mundo. Muitas vezes ela é motivo de outras doenças.
    Porém, o álcool não entra na grande maioria das pesquisas sobre drogas porque, se entrasse, ganharia disparadamente no índice da droga mais usada no mundo.
    O alcoolismo é uma doença compulsiva em que, através de depoimentos dos próprios dependentes, se descobriu que estes perdem o controle sobre o álcool, após o primeiro gole.
    Segundo o Comitê de Peritos da OMS em Farmacolodependência, os problemas relacionados com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas são os seguintes:
  • Aumento da mortalidade - as pessoas que têm um consumo médio diário de 150 ml de álcool absoluto, possuem elevado risco de sofrer de cirrose hepática. Esta doença do fígado é causa de morte. A taxa de mortalidade por qualquer causa, entre os que bebem excessivamente, é quatro vezes maior que na população em geral.
  • Acidentes de tráfego - o grande número de acidentes de tráfego, tendo como causa o ato de dirigir alcoolizado, tem requerido, em diversos países, o estabelecimento de programas preventivos contra essa causa de acidente.
  • Repercussões de ordem econômica - as repercussões de ordem econômica são várias: os gastos dos serviços de saúde no tratamento de enfermidades relacionadas com o álcool, o alto custo que representam os problemas provenientes do uso do álcool para as indústrias e programas de assistência social e o custo com os acidentes de tráfego.


    INALANTES

    São substâncias voláteis, vendidas legalmente e utilizadas indevidamente como drogas, ao serem inaladas.
    O fato de serem compostos legais produzidos, distribuídos e vendidos com múltiplos fins, dificulta a prevenção de seu mau uso. Tais substâncias são encontradas em produtos de uso domésticos e industriais, como aerosol, gasolina, cola de sapateiro, solvente de pintura, tintas, éter, clorofórmio, laquê, esmalte de unha... Existem, ainda, preparados conhecidos como "cheirinho da loló", "lança-perfume"...

    Efeitos dos inalantes

    Interferem na respiração, podendo causar asfixia e morte súbita por parada cardíaca, ao privar o cérebro de oxigênio; sensação de estrangulamento; tornam irregulares os batimentos cardíacos; causam danos à visão e lesão nas células do fígado; prejudicam a memória e a capacidade de pensar com clareza; comportamento violento, causado por distúrbios orgânicos; alucinações. O uso prolongado de inalantes causa lesões cerebrais irreversíveis.

    Em relação à cola de sapateiro, Darcy Ribeiro (Partido Democrático Trabalhista - RJ) está certo de que existe uma indústria que já faz cola em frascos pequenos, próprio para o consumo e não para o uso de sapateiros.
    Ele quer que fabriquem uma cola sem cheiro já que é o cheiro que atrai meninos e meninas de rua e até mesmo adolescentes de classe média.
    "Foi assim com a filha do nosso grande poeta Moacir Feres que morreu cheirando cola no Rio", diz Darcy.
    O cheiro da cola é tão atraente que ela é o começo do vício. Para os menores carentes, essa droga é um meio de matar a fome por um período de tempo.
    A cola de sapateiro foi detectada pelo CONEN como uma das mais usadas no Rio de Janeiro e uma das mais danosas ao ser humano.
    Segundo o Sr. Aurélio Santa Sé, a cola é uma droga extremamente tóxica e é difícil afirmar o tempo de vida dos usuários. A overdose depende da forma como se usa e o porquê do uso (suicídio ou não). Está entre as drogas que causam dependência.


    MACONHA

    A maconha é um alucinógeno obtido do cânhamo, planta que se assemelha a um capim alto. Cientificamente, a maconha é chamada de Cannabis Sativa ou Cannabis Indiana. Em outros países chama-se de: Hashish, Bangh, Ganja, Riamba, Marijuana. Ela já é conhecida há pelo menos 5000 anos, sendo utilizada quer para fins medicinais, quer para produzir risos.
    Seu uso é amplamente disseminado entre os adolescentes em virtude de seu preço e de poder associar-se ao fumo, podendo também ser ingerida com alimentos e bebidas.
    A maconha é usada sob a forma de cigarro e não produz dependência física, razão pela qual o viciado não precisa aumentar a dose para continuar sentindo seus efeitos.
    Em função do uso abusivo por causar sensações estranhas, ela foi proibida praticamente em todo o mundo ocidental nos últimos 50-60 anos.
    É recomendada em duas condições clínicas: contra náuseas e vômitos causados pelos medicamentos anti-câncer ou epilepsia (doença que se caracteriza por convulsões ou "ataques").
    O efeito da maconha varia de pessoa para pessoa. O THC (Tetrahidrocanabinol) é uma substância química fabricada pela própria maconha, sendo o principal responsável pelos efeitos da planta.
    Sinais de uso e efeitos a curto e longo prazo
    A maconha pode causar danos físicos e psíquicos.
    Os físicos são:
    Olhos avermelhados, boca seca, taquicardia que pode variar de 60-80 batimentos ou 110-120, ataxia, inflamação das mucosas, aumento do apetite para substâncias adocicadas.
    Os efeitos psíquicos são:
    Euforia, confusão mental, irresponsabilidade, irritabilidade, agressividade, sensação de relaxamento, vontade de rir, sentimento de angústia, temor de perder o controle da cabeça, problemas na memória e na atenção, perda da noção de tempo e espaço, delírios e alucinações (manifestações mentais pelas quais a pessoa faz um juízo errado do que vê ou do que ouve, por exemplo ter a sensação de perseguição).
    Os chamados "efeitos crônicos" são de maior monta:
    Problemas nos pulmões devido ao alto teor de alcatrão da maconha, diminuição do hormônio masculino levando à infertilidade, síndrome amotivacional, ou seja, interfere na capacidade de aprendizagem e pode induzir a falta de vontade de fazer qualquer coisa.
    O Brasil é o maior produtor de maconha e ela aparece em 5º lugar entre as drogas mais usadas.
    O JB de 11/02/94 traz a notícia do Skank, uma nova droga que vem da maconha e tem um poder entorpecente 10 vezes maior do que a maconha. Ele está aparecendo cada vez mais no Brasil, preocupando os policiais da cidade. O delegado Roberto Pril informou que o consumo desta droga aumentou, sem, no entanto, identificar em que partes do país.
    A maconha e o haxixe são parecidos, porém a substância ativa da maconha é o THC que varia de 3% a 8%, na América do Sul. O haxixe tem até 98% de THC e, por isso, pode gerar uma dependência muito maior.


    CIGARRO

    Começar a fumar é fácil. Meio na brincadeira, aceita uma tragada do cigarro de um amigo. Afinal de contas, o adolescente quer fazer as mesmas coisas que a "galera" faz... E, embora a reação de quem experimenta o tabaco pela primeira vez quase sempre não seja agradável - em geral, vem acompanhada de tontura, engasgos, tosse, dor de cabeça - mesmo assim, por teimosia tenta mais uma vez. Na terceira investida percebe que está descobrindo "o prazer" de entrar para o time dos fumantes. Vantagens? Nenhuma. Ao contrário. Já está mais do que provado pela ciência que fumar faz mal à saúde. Simplesmente porque apenas um cigarro contém mais de quatro mil substâncias tóxicas nocivas ao seu organismo, entre elas, a nicotina. Esta última é uma droga poderosa, capaz de deixar uma pessoa dependente em pouco tempo.
    Estudos realizados no Brasil comprovam que 90% dos fumantes adultos começaram a dar suas baforados na adolescência. Esses mesmos estudos dizem que atualmente cerca de 15% dos adolescentes entre 12 e 19 anos está fumando.
    As propagandas de cigarro são sedutoras: as pessoas são bonitas, bem sucedidas, cheias de grana. Fumar parece ser chique e moderno, enfim um hábito inofensivo.
    Os médicos afirmam que a grande dificuldade de convencer o jovem de que fumar não é bom, é que a maioria acha que leva muitos e muitos anos para o cigarro fazer mal. Porém, sabe-se que um adolescente que fuma há um ou dois anos já tem sua capacidade respiratória diminuída. Para se ter uma idéia de como o aparelho respiratório fica comprometido, basta saber que um jovem que fuma há mais ou menos seis anos tem uma capacidade respiratória parecida com a de uma pessoa de 30.
    Está provado que quem fuma um maço de cigarros por dia, desde a adolescência, tem sua vida encurtada em média de 8 a 12 anos em relação a um não fumante.
    O adolescente que fuma muito tem a menopausa mais precoce. Também envelhece antes do tempo. Isso porque a nicotina contrai os vasos sangüíneos e com isso há uma menor irrigação para o coração (a causa do infarto) e para a pele. Com o passar do tempo, a pele, menos irrigada pelo sangue enruga mais depressa. Sem contar que os dentes sempre ficam amarelados e o cheiro do cigarro fica impregnado na roupa e nos cabelos.
    O início do vício: numa tragada a nicotina vai para o pulmão, passa para a corrente sangüínea e, em 7 segundos, chega ao cérebro. Lá, ela atinge células nervosas, que "ensinam" ao organismo que ele precisa desta substância para ficar legal. Em pouco tempo cria-se a dependência física, o vício. Depois também a dependência psicológica, ou seja, o fumante se acostuma com o hábito de fumar, com o ritual de acender o cigarro, sentir o sabor, tragar e soltar a fumaça.
    A nicotina causa mais dependência física e psicológica do que a cocaína e a heroína. É muito mais fácil curar um dependente dessas duas drogas do que um dependente de cigarro. Apenas 30% dos que tentam conseguem parar de fumar.
    Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, atualmente morrem cerca de 3 milhões de pessoas no mundo vítimas de doenças relacionadas ao tabagismo. De acordo com a OMS, o cigarro está matando mais do que cocaína, heroína, álcool, suicídio, incêndio e AIDS juntos.
    A dependência física faz com que o corpo precise da dose diária de nicotina para ficar bem. Justamente por isso é que parar de fumar se torna tão difícil. Difícil, mas não impossível. Hoje existem muitas armas para vencer o vício. Desde adesivos, colocados sobre a pele, e chicletes contendo doses de nicotina (que substituem a nicotina do cigarro) até tratamentos alternativos como acupuntura e hipnose. Todas ajudam o fumante a superar os efeitos que a falta do cigarro (e das substâncias que ele contém) provoca, ou seja, irritação, dores de cabeça, ansiedade e ânsia de vômito. Porém, para que tudo isso funcione é preciso um ingrediente fundamental: a força de vontade.

    O texto "Nicotina" encontrado no livro Tudo Sobre Drogas, de Jach Henningfield, explica que o tabaco é uma planta da família das solonáceas. O vegetal recebeu o nome de Nicotina Tabacum, em homenagem a Jean Nicot, embaixador francês em Portugal, por volta de 1580. Nicot acreditava que a planta tinha poderes medicinais e estimulou o seu cultivo.
    O tabaco está entre as drogas consumidas e geradoras do poder econômico do 1º Mundo, juntamente com o álcool e os remédios.
    O cigarro transmite uma doença chamada câncer de cólon. Quem usa essa droga tem 94% de probabilidade de contrair esta doença. Quem fuma desde cedo ou fuma mais de dez cigarros por dia, mesmo parando um certo tempo, não consegue eliminar os seus malefícios e tem 47% de chance de contrair câncer. De todas as mortes de câncer, 40% em homens e 20% em mulheres estão ligadas ao tabagismo. Aliás, poluição, cigarro e sol estão entre as principais causas dessa doença.
    Um grupo de pesquisadores norte-americanos calculou que um minuto passado a fumar, reduz um minuto de vida. E os fumantes passivos, ou seja, as crianças e os não fumantes que convivem diariamente com fumantes, saem também prejudicados. No caso das crianças, elas têm quatro vezes mais risco de pegar bronquite, chiado no peito, asma e pneumonia.
    Uma das principais motivações para que o adolescente comece a fumar é o desejo de imitar o comportamento dos adultos, de se igualar aos pais e amigos mais velhos.

    Efeitos do cigarro no organismo

    Bronquite crônica; enfisema pulmonar (destruição das paredes do pulmão); infarto do coração; câncer do pulmão e de cólon; derrame cerebral; úlcera do estômago e do intestino; crises de tosse; câncer de laringe, faringe e boca.

    Você sabia que...

  • O cigarro aumenta duas vezes a "velocidade" do envelhecimento e deixa a mulher mais propensa à celulite, por causa da menor oxigenação das células.
  • Pílula anticoncepcional e cigarro é combinação proibida, porque aumenta em 700% o risco de infarto e derrame cerebral.
  • Quem não fuma e convive com fumantes sofre com os efeitos do cigarro. No final de um dia ao lado de pessoas que fumaram 20 cigarros, dependendo da ventilação, o fumante passivo terá recebido o equivalente à nicotina de 2 a 4 cigarros.
  • O fumante passivo tem de 200 a 300% de chances a mais de ter câncer de pulmão do que uma pessoa que não convive com fumantes.
  • Quem fuma tem o olfato e o paladar alterados. As substâncias tóxicas do cigarro inflamam o tecido nasal e diminuem a irrigação sanguínea do sistema respiratório.


    COCAÍNA

    A cocaína é um alcalóide - substância que contém nitrogênio, carbono, oxigênio e hidrogênio extraído das plantas - branco e cristalino.
    É uma droga euforizante extraída das folhas de um arbusto nativo dos Andes, popularmente denominado "coca" e cujo nome científico é Erythoroxylum cocae. É um pó químico, que derivado de folhas secas da planta, cresce em países da América do Sul (Bolívia e Peru). É consumida sob a forma de pó aspirando-a. Mas, pode também ser fumada (crack) ou injetada diretamente na corrente sangüínea.
    Muitos viciados já se viram obrigados a realizar cirurgias plásticas de cartilagem das narinas, porque esta é uma droga corrosiva que destrói a mucosa interna do nariz. Poucos segundos após a inspiração, a pessoa experimenta uma sensação de adormecimento do nariz e depois uma friagem, que dura minutos e termina, quase completamente, em uma hora. O percurso da cocaína no organismo passa por três órgãos vitais: vai para os pulmões, para o coração e, depois, chega ao cérebro. Nesse trajeto, é metabolizada e, de certa forma, os efeitos são atenuados.
    Injetada, causa estímulos muito mais rápidos - bastam apenas dois segundos - e intensos. Motivo: ela vai direto para o cérebro.
    A cocaína age no SNC, mais precisamente na ligação entre os neurônios - ligados uns aos outros em vasta rede. Em situação normal um neurônio transmite neurotransmissores a outro. Parte desses neurotransmissores é captada pelo neurônio que os recebe e parte é recaptada por aquele que os emitiu. A cocaína impede essa recaptação e dá um estímulo contínuo ao cérebro. Provoca comunicação muito mais veloz e freqüente entre os neurônios.
    Dez segundos são suficientes para causar euforia, excitação sexual, raciocínio acelerado, sensação de poder. São esses efeitos velocíssimos que tanto atraem usuários de cocaína.
    Para os consumidors esporádicos, a droga circula como convidada especial somente em festas e embalos de fim de semana, e serve de "amparo" em dia de desânimo ou baixa de energia criativa. A diferença é que enquanto os dependentes não conseguem mais viver sem esse estímulos, os usuários sociais ou recreativos (como preferem chamá-los os especialistas) acreditam não sofrer de compulsão. O maior problema do consumidor recreativo é a necessidade de provocar euforia artificial. Isso denota que ele não está estruturado a bastar a si mesmo nem acreditar que o bem-estar possa vir do estabelecimento de relações humanas, mas da relação com um produto inerte. Assim como acontece com o álcool, alguns adolescentes terão problemas e outros não. E isso está relacionado com a personalidade e com as pressões culturais e grupais.
    Reproduzindo na íntegra as informações do cartaz Drugs: A Deadly Game!, encontramos que: a cocaína é um poderoso estimulante cerebral; é extremamente perigosa; altera as funções cerebrais, trabalha nas áreas do prazer do cérebro; quando inalada em pó muda a composição química do cérebro; e nunca é a primeira droga a ser usada.
    Segundo a farmacêutica-bioquímica Solange Nappo, pesquisadora do CEBRID, a OMS considera dependente quem apresentar, pelo menos, três dos seguintes sinais:
  • Forte desejo ou compulsão pela droga;
  • Uso para atenuar sintomas de abstinência (dor de cabeça, diarréia, náuseas, taquicardia, suor excessivo);
  • Estreitamento do consumo, quando o indivíduo passa a consumir a cocaína em ambientes não-propícios, a qualquer hora, sem motivo especial;
  • Evidência de tolerância, necessitando de doses crescentes da substância para alcançar os efeitos originalmente produzidos;
  • Negligência progressiva de prazeres e interesses em favor do uso da droga.
    Um usuário definiu bem a questão da dependência: "É quando você deixa de usar a droga e ela passa a usá-lo".
    Entre as drogas ilícitas, cujo poder econômico está no 3º Mundo, encontramos a cocaína, sobretudo na Colômbia. Dos usuários que chegam ao CONEN, as drogas mais encontradas são o álcool e a cocaína.

    Sinais de uso

    Sangramento nasal, falta de sono, tremores, mal-estar, perda de peso, tosse crônica, depressão, febre, violência, possível tendência ao suicídio, instabilidade de comportamento, raiva, nervosismo, audição de vozes, descuido com a própria aparência, ilusão de força, euforia, agitação, dor de cabeça, pupilas dilatadas, boca seca, respiração acelerada.

    Partes do corpo afetadas pela droga

    Sistema nervoso central - Avaria.
    Cérebro - Avaria permanente. Em animais de laboratório há evidências de degeneração dos neurônios. Por produzir aumento da pressão arterial, pode provocar acidente vascular cerebral (AVC).
    Sangue - Possível infecção pelo vírus da AIDS, quando injetada com agulha infectada.
    Coração - Aumento das batidas, risco de ataque. Ao causar fibrilação ventricular, tende a levar à morte por overdose, quando há aumento da temperatura corporal, que gera convulsões.
    Nariz - Sempre escorrendo, sangrando (hemorragia nasal).
    Causa ainda alucinações visuais, tácteis e auditivas, tornando o indivíduo perigoso quando sob a ação da droga. O uso constante da cocaína e crack pode acarretar a morte por ataque cardíaco, crise respiratória e convulsões.

    O índio sul-americano procura, mascando as folhas de cocaína, eliminar o cansaço e a fome, diminuir a sede e obter sensação de bem-estar. O chá de cocaína reanima e funciona como um anestésico local.


    LSD-25

    O LSD-25 é dietilamina do ácido lisérgico. O ácido lisérgico constitui a estrutura central dos alcalóides do exporão do centeio (ergot). Seus efeitos podem ser psíquicos e orgânicos.
    É uma substância alucinógena fabricada em laboratórios, não sendo, portanto, de origem natural, e é capaz de promover alucinações no ser humano. Podem ser chamadas também de perturbadores.
    As perturbações que o LSD pode causar dependem da pessoa, de seu estado de espírito, do momento em que tomou a droga e do ambiente em que se deu a experiência.
    Segundo informações, o uso do LSD foi decretado ilegal nos EUA em outubro de 1966, mas aí já era tarde demais para deter a onda psicodélica que fazia a juventude alucinar-se.
    O LSD foi criado por acaso por Albert Hofmam, quando estava tentando inventar um remédio para dor de cabeça. Hofmam tentou usar o LSD em tratamento de pessoas com distúrbios mentais, esquizofrênicos, toxicômanos, desajustados sexuais e criminosos para que eles aprendessem a encarar sua personalidade com objetividade, o que tornaria tudo mais fácil. Fracassou com sua tentativa.
    Em 1960, o LSD ainda estava confinado aos laboratórios de pesquisa e não tinha saído às ruas. O quadro mudou radicalmente nos anos seguintes, graças, em grande parte, a um único homem: Timothy Leary, professor assistente de pesquisa. No início dos anos 60, começaram a fazer experiências com drogas parecidas com LSD em detentos. Leary, depois de muitas experiências, começou a pensar que o LSD era capaz de expandir o nível da consciência. E podia também "reciclar" o cérebro.
    O consumo de alucinógenos semelhantes cresceu muito na década de 70, por influência da publicidade de Leary e, sobretudo, pelo clima de agitação social da época.
    Alguns fatores, como a informação de que o uso do LSD causava danos aos cromossomos, provocaram declínio do consumo. Com este declínio no fim da década de 70, os consumidores começaram a usar outras drogas, tais como a maconha e a cocaína. Estes produtos continuaram predominando até o início dos anos 80, quando houve um ressurgimento do LSD.

    Efeitos causados pelo LSD

    O LSD causa alucinações tanto visuais quanto auditivas, intensifica ou altera as percepções sensoriais - as coisas passam a ter forma, cor, cheiro, sabor, som, distância, toque diferentes.
    Pode tanto trazer satisfação (a "boa viagem") como deixar a pessoa extremamente amedrontada (a "má viagem"). A "má viagem" é uma experiência assustadora que faz o usuário perder o controle da mente, torna-o muito sugestionável, com medo das pessoas, podendo também causar loucura, suicídio ou assassinato. Assim, tanto estados de exaustão como de ansiedade e angústia, até pânico, são relatados.
    Outro aspecto que caracteriza a ação do LSD-25 no cérebro refere-se aos delírios. Estes são o que chamamos: juízos falsos da realidade. Os delírios causados pelo LSD costumam ser de natureza persecutória ou de grandiosidade.
    O LSD tem poucos efeitos no resto do corpo. Logo de início, 10 a 20 minutos após a ingestão, o pulso fica rápido, as pupilas mais dilatadas, além de ocorrer sudoração e a pessoa sentir-se com uma certa excitação.
    Esta droga causa também tremores, convulsões, reações psicóticas, turvamento de visão, além de possíveis danos permanentes nas células do cérebro.
    O perigo do LSD-25 não está tanto em sua toxicidade para o organismo, mas, sim, no fato de que, pela perturbação química, há perda da habilidade de perceber e avaliar situações comuns de perigo. Isto ocorre quando a pessoa, com delírio de grandiosidade, julga-se com capacidade ou forças extraordinárias, sendo capaz de, por exemplo: voar, atirar-se de janelas, parar um carro numa estrada ficando na frente dele, etc.
    Há também descrições de casos de comportamento violento, gerado principalmente por delírios persecutórios como o drogado querer atacar os amigos por julgar que estão tramando contra ele.
    Pode ocorrer o flashback, que é uma variante, após semanas ou até meses de uma experiência com LSD; quando o usuário repentinamente passa a ter sintomas psíquicos daquela experiência anterior, sem ter tomado de novo a droga.


    PLANTAS ALUCINÓGENAS

    A maioria delas pode ser encontrada no Brasil.
    Nosso país é o que mais consome drogas de origem vegetal, mas elas não fazem mal ao cérebro, se forem ingeridas em porções pequenas.
    Sob o efeito destas plantas podem ocorrer mudanças no corpo, como dilatações das pupilas, suor excessivo, taquicardia, náuseas e vômitos.
    As plantas alucinógenas não causam dependência.

    A mescalina é um alucinógeno extraído de um cacto do México denominado peyoti, cujo nome científico é Lophophora williamsi.
    São efeitos da mescalina em pessoas normais: ansiedade, tremores, hiperreflexia e alucinações visuais envolvendo perturbações da percepção do espaço e da cor.
    O conteúdo das alucinações visuais relativas à cor compreende luzes vivamente coloridas, com formas geométricas variadas, tomando aspecto de animais e pessoas, sendo, por vezes, acompanhadas de componentes sexuais.


    REMÉDIOS

    Substâncias vendidas sob prescrição médica, com objetivos terapêuticos, que se tornam drogas devido ao seu mau uso. São conhecidas, neste caso, como "bolinhas" ou "diabos vermelhos". O remédio é a droga mais usada no mundo. No mundo moderno, ele é procurado para aliviar qualquer mal-estar.
    Sedativo é o nome que se dá ao medicamento capaz de diminuir a atividade do nosso cérebro, principalmente quando ele está num estado de excitação acima do normal. O termo sedativo é sinônimo de calmante, sedante ou tranqüilizante. É uma droga depressora do SNC, utilizada geralmente como "pílula para dormir". Ela acalma os nervos, produz sono e dá alívio à ansiedade e à tensão mental.
    Tais efeitos têm duração limitada e, por isso, doses crescentes são necessárias para obtenção dos efeitos originais, produzindo dependência e tolerância. Ingeridos com freqüência, os tranqüilizantes causam entorpecimento da fala, memória e razão, diminuição dos reflexos, sonolência contínua e estupor.
    São 35 milhões de unidades vendidas em um ano. Uma febre que ataca principalmente as mulheres responsáveis por 75% do consumo nacional. Em um mês, elas se tornam dependentes e sofrem de efeitos colaterais semelhantes aos da cocaína, como déficit de memória, aumento da pressão arterial e tremores. Os homens são mais transgressores: recorrem ao álcool e à maconha. Encaram os calmantes como drogas de submissão.
    O maior risco, porém, é sua mistura com o álcool que potencializa os efeitos e podem matar ou produzir coma irreversível, porque ambas as drogas têm efeito sedativo. Uma pessoas entra em coma com sete calmantes misturados a uma dose de uísque, enquanto outra pode morrer com vinte.
    Também podem matar por overdose em que se ingere grande quantidade, o que leva a uma intoxicação. Em um número superior ao que a bula recomenda - dois ou três por dia -, os benzodiazepínicos provocam desmaios, convulsões, perda de reflexo. Sinais típicos de overdose, que só é combatida com lavagens estomacais para provocar vômitos - que garantem a eliminação da droga no organismo.
    Mas a overdose é só um dos perigos. Tão graves quanto são os danos causados pela ingestão dessas drogas por tempo indeterminado. Em um mês, podem começar a ocorrer perda de memória, atenção prejudicada e lentidão no raciocínio, justificadas pela alteração do ritmo de chegada dos estímulos nervosos ao cérebro. Consumidas na gravidez, os calmantes também viciam o bebê, que acaba sofrendo de irritabilidade, insônia e nervosismo. Para tratá-lo, é necessário administrar doses cada vez mais reduzidas do remédio, atitude idêntica à que se adota nas crises de abstinência.
    Quando um sedativo é capaz de diminuir a dor, ele recebe o nome de analgésico. Mas quando o sedativo é capaz de afastar a insônia, produzindo sono, ele é chamado de hipnótico ou sonífero. E quando um calmante tem o poder de atuar sobre estados exagerados de ansiedade, ele é denominado de ansiolítico. Esse calmante causa dependência e faz parte do grupo dos benzodiazepínicos. Há outras drogas usadas como tranqüilizantes, com ação diferente nos receptores cerebrais, que não viciam, a exemplo dos neurolépticos recomendados em casos de esquizofrenia. Finalmente, existem algumas destas drogas que são capazes de acalmar hiperexcitados ou epiléticos: são as antiepiléticas.
    Alguns xaropes para tosse possuem um medicamento ativo chamado codeína ou ziperol, que aliviam a dor e dão sonolência. A codeína vem do ópio, logo trata-se de opiácio natural.
    Os comprimidos curam as dores físicas e depressões psicológicas, mas contêm as drogas que destroem, envenenam, intoxicam e matam.
    Há vantagens e desvantagens em se tomar tranqüilizantes menores como Valium, Librium, Milton, Lexotan, Lorax, Dienpax, que podem ser úteis em certos casos. Eles são úteis em casos de depressão, fobias graves, síndrome do pânico e distúrbio obsessivo-compulsivo. Os tranqüilizantes podem aliviar sintomas da síndrome de abstinência de barbitúricos e de álcool. Os barbitúricos pertencem a um grupo de drogas sedativas. Doses grandes causam risco de efeitos colaterais que ocasionam dependência e morte por overdose. Essa dependência acontece quando se usa sempre o remédio, pois o corpo se acostuma a ele.
    Os ansiolíticos têm capacidade de sedação suave. Os efeitos não são fortes e algumas drogas são úteis no caso de ansiedade leve. Pacientes com níveis elevados de ansiedade tiram melhor proveito da droga do que aqueles com níveis baixos.
    Em todas as capitais do Brasil, as drogas mais usadas pelos jovens são os inalantes (para cheirar): éter, tinta, cheirinho-da- loló, lança-perfume, acetona. As que vêm em segundo lugar são, exatamente, os ansiolíticos.
    Do lado oposto a dos sedativos, estão as anfetaminas, que estimulam as atividades do SNC. São drogas sintéticas, fabricadas em laboratórios e usadas para reduzir o apetite, suprimir sono, combater a fadiga e resolver problemas de asma. Fazem o cérebro trabalhar mais depressa, deixando as pessoas mais "acesas", "ligadas", elétricas, etc. É chamada de "rebite" principalmente entre os motoristas que trabalham à noite, ou seja, a droga como que prega o motorista no volante (rebite), não o deixando dormir.
    As anfetaminas são geralmente ingeridas como pílulas ou injetadas na corrente sangüínea. Ao serem consumidas, aceleram a atividade mental e física, produzem estados de excitação, euforia, bem-estar e força, agilizam a fala e aumentam a atividade motora.
    Ao criarem dependência e serem consumidas constantemente, e em grandes quantidade, as anfetaminas passam a causar insônia, ansiedade, desassossego, taquicardia, problemas de pele e nos dentes. Seu acúmulo no organismo causa a psicose anfetamínica caracterizada por extrema desconfiança, comportamento esquisito e às vezes violento. Procurando contrabalançar os efeitos maléficos das anfetaminas, muitas pessoas passam a consumir tranqüilizantes. Essa mistura pode ser fatal.


    HEROÍNA

    Mais que o álcool, a maconha, a cocaína, eis a grande ameaça aos jovens neste fim de século: a heroína.
    Derivada do ópio e sintetizada a partir da morfina pela primeira vez em laboratório em 1989, chegou a ser considerada uma solução para a cura dos viciados em morfina. Mas depois que se descobriu que ela é no mínimo três vezes mais forte que a morfina, sua fabricação foi proibida no mundo todo.
    Injetada diretamente no sangue, a heroína produz efeitos que duram de duas a quatro horas. Como as outras drogas derivadas do ópio, ela age sobre o sistema digestivo e nervoso central onde os efeitos de torpor e tontura vêem associados, nos estágios iniciais, a um sentimento de leveza e euforia. Agindo como depressora do SNC, alivia as sensações de dor e angústia. Segue-se um estado de letargia que pode durar horas. As primeiras doses podem provocar vômitos e náuseas. O sistema desaparece em pouco tempo, mas volta com violência quando a droga deixa de ser consumida, porque o organismo se acostuma rapidamente com ela.
    A heroína foi uma das drogas que causou estragos nos EUA, como no caso do gênio do jazz Charlie Parker (Bird), que morreu aos 34 anos de overdose de heroína. Ele estava tão viciado que passava dias inteiros "desligado".


    CRACK

    O crack é a própria cocaína fumada em forma de pedra de formatos irregulares. Fumado em cachimbos, muitas vezes improvisados com potinhos de iogurte e canetas, ou em copos plásticos, tem cheiro forte e estala fazendo "crack", "crack", daí o nome.
    O usuário convencional compra papelotes com uma grama de pó branco, a farinha. Cheira, impregna os vasos da mucosa nasal, joga droga no cérebro e libera a dopamina. A quantidade de tóxico que chega aos centros nervosos é pequena.
    O craqueiro usa cocaína num estado diverso, misturado a uma substância alcalóide num coquetel químico, que uma vez aquecido, endurece. Ao fumar a pedra, ele espalha a droga pelas esponjas pulmonares, o maior e melhor absorvente do organismo, com uma área 200 vezes maior que a da mucosa nasal. Em menos de quinze segundos a cocaína chega ao cérebro e provoca uma forte constrição dos vasos. Surge a luz, o relâmpago, o estalo. Os olhos vidram-se, desliga-se. Coisa de um segundo. A droga ordena a liberação da dopamina, o mais poderoso excitante do organismo. No cérebro as células protegem-se capturando de volta o excesso de dopamina, mas com o uso constante a cocaína desliga essa válvula.
    Cada tragada é um novo estímulo, mas aquela luz só na primeira vez. São dez minutos de êxtase. Absorvida a dose, falta dopamina nos circuitos e, onde houve luz e movimento, há silêncio e escuridão. É a nóia (que vem de paranóia. Nela sucedem-se alguns minutos de alucinações - calçadas cravejadas de pedras, policiais entrando pela janela do décimo andar, baratas andando embaixo da pele - e a depressão provocada pela falta de dopamina nos circuitos químicos do cérebro). Ou a pessoa espera algumas horas e o sistema nervoso se reequilibra, ou queima outra pedra, estimulando uma nova descarga.
    "O crack desaponta a noção de prazer que se espera de uma droga. Ele é um estado puro da necessidade de ficar drogado, só tem a ver com a necessidade de fumá-lo", explica a professora americana Avital Ronnel, autora do livro Crack Wars, audacioso estudo sobre os labirintos da dependência psicológica.
    O crack é uma droga que leva os seus usuários ao isolamento. A paranóia que se instala gera medo de ser descoberto e suspeita de que está sendo enganado pelos amigos, o que contribui para o confinamento dos dependentes a locais fechados. A mentira passa a fazer parte do seu discurso e, associada à desconfiança, pode gerar agressividade e até violência.
    O perfil do viciado em crack é o de um pobre com menos de 30 anos, passado de drogas, vivendo em bairro degradado, em família desestruturada. E gente que de uma maneira ou de outra já se habituou às drogas. Apesar da droga já ter chegado a bairros de classe média e alta, sobretudo na cidade de São Paulo, existem pouquíssimos craqueiros ainda pertencentes a essas classes. "O sujeito começa a fumar mantendo os valores e os hábitos da classe média, mas a droga toma conta da vida dele. Em pouco tempo vira marginal. Rouba em casa para comprar droga", afirma o policial Corazza.
    Entre 1992 e 1993 os casos de viciados em crack, que pediram ajuda a DIPE (Departamento de narcóticos da Polícia Paulista) aumentaram 106%, enquanto os casos de usos de cocaína caíram 30% e os de maconha, à metade. Nos dois primeiros meses deste ano, de cada quatro viciados, um era menor.
    No Rio de Janeiro, flagelado por uma verdadeira guerra do tráfico, ainda não há registro importante da invasão do crack. Uma das hipóteses que explicam isso é que os chefões da droga temem o desfalque que o vício da crack acarretaria em suas próprias trincheiras, inutilizando a mão-de-obra barata dos meninos que trabalham para eles.
    Com crack, não existe o chamado uso social ou recreativo. O caminho entre a experimentação e a dependência é muito rápido. A compulsão para o uso dessa droga (o que os dependentes chamam de ‘fissura’) é muito mais poderosa que a desenvolvida pela cocaína aspirada ou injetada.
    Para o dependente são necessárias ao menos cinco pedras por dia, às vezes chegando a quinze. O crack é capaz de provocar dependência em menos de um mês de uso e a morte em menos de um ano.
    Esquálidos e imundos, os craqueiros não dormem, não comem e muito menos voltam para a casa. Ficam nas favelas, no meio dos traficantes que vendem a droga, "pipando" crack.
    O impressionante é que 52% dos consumidores têm entre 13 e 20 anos e 40% entre 20 e 30 anos.
    Andréia é prostituta, tem 21 anos, fuma há 2, cobra cinco reais por programa, paga dez por pedra e tem AIDS. "Estou na rua há quatro anos, vegetando. Minha desgraça são essas malditas e maravilhosas pedrinhas. Elas me dão paz. Vejo o preto mais preto, o branco mais branco. Tudo fica mais claro, eu entendo melhor. É ruim ter de conviver com esse pessoalzinho. Eles medem a vida pelo tamanho da pedra. Meu poblema é que, quanto mais eu vou, mais eu quero. Já fumei cinco dias seguidos. Dormi em pé. Caí de sono. Minha nóia é a próxima."

    Sintomas do uso de crack

    Mudanças no comportamento; o usuário vai mal na escola (ou a abandona); sono altamente perturbado; emagrecimento acentuado; isolamento; paranóia (acha que está sendo seguido ou que caiu alguma pedra de crak no chão); apatia; introversão; dilatação das pupilas; memória e coordenação motora afetadas. Outro perigo que ronda o usuário do crack é a Aids: uma combinação que é atribuída pelos estudiosos à alta rotatividade de sexo, sem prevenção.


    ECSTASY

    Nascido na Alemanha, espalhado pela Europa a partir de Londres, o ecstasy (MetilenoDióxidoMetAnfetamina, MDMA) chegou ao Brasil depois de uma rápida escala nos Estados Unidos. Apesar de o coquetel de alucinógeno e anfetamina provocar dependência e, em alguns casos, até a morte, as autoridades não dispõem de dados sobre os consumidores.
    A sensação de bem estar provocada peo ecstasy deriva de uma ação fulminante sobre o sistema nervoso central. Com o estômago vazio, alguém que ingira a droga demora de 20 a 30 minutos para sentir os efeitos. É o tempo que leva para a molécula base do ecstasy atingir o SNC. Nos neurônios, a substância aumenta as concentrações de serotonina, ligada às sensações amorosas, e de dopamina, um anestésico natural. O "barato" pode durar de seis a oito horas.
    "Se o hype na época de Woodstock era rock, uma pomba tatuada no braço e LSD, a geração anos 90 prefere a música dance, os tattoos (tatuagens) tribais, o body-piercing (aquela mania de colocar brincos nas partes inusitadas) e ecstasy", explica o DJ Felipe Venancio.
    O ecstasy tem vários apelidos, como E, X, XTC e Adam. A droga proporciona uma sensação de leveza, aumenta a temperatura do corpo, dá uma sede oceânica e eletrifica a pele, mas não tem poderes eróticos, embora seja conhecido como droga do amor. O ecstasy é como o álcool: aumenta o desejo, mas prejudica o desempenho. No homem, diminui em 50% a capacidade de ereção.
    A combinação da droga com a música e a dança produz um estado de transe similar ao experimentado em rituais tribais ou em cerimônias religiosas.
    Diferentemente da Inglaterra, onde ocupa o 2º lugar no ranking das drogas ilegais, perdendo apenas para o haxixe, no Brasil o ecstasy atende a um circuito fechado. São jovens de classe média. E o preço talvez explique o que acontece. Como é caro - 50 reais o comprimido, contra 30 reais para a grama da cocaína e 7 reais para uma pedra de crack - , o ecstasy é uma droga elitista. Cada comprimido serve como estimulante para no máximo duas pessoas, segundo a maioria dos depoimentos.
    Geralmente proveniente da Alemanha, Holanda e Inglaterra, a droga chega disfarçada em vidros de vitaminas.
    A morte por ecstasy é causada pela desidratação que atinge quem fica dançando freneticamente, por reações alérgicas ou por hipertemia. Nesse caso o metabolismo acelerado eleva a temperatura corpórea para até 42 graus e cozinha as células. Dois usuários já morreram por excesso de consumo de água - um deles bebeu a bagatela de 14 litros de uma vez. Isso é possível pois o ecstasy pode desregular o sistema antidiurético, que evita perda de líquidos pelo organismo.
    A droga já tem seu filhote. Uma das substâncias que compõem o ecstasy - a metanfetamina - é o princípio ativo do speed, que se cheira, fuma ou se injeta na veia. Apelidada de cocaína de pobre, a droga produz efeito parecido e custa barato. Em dez anos, os ameicanos da Califórnia, paraíso do speed, viram as internações hospitalares relacionadas a seu consumo aumentar em 366%. A droga já chegou ao Brasil.


    Algumas Eestatísticas interessantes:

  • 3% das adolescentes brasileiras já experimentaram maconha e 0,6% provaram cocaína.
  • O Brasil tem 40 mil mulheres alcoólatras. No mundo, são cerca de 1,2 milhão (os números, dos Alcoólicos Anônimos de São Paulo, se referem às dependentes que já procuraram ajuda ou estão em tratamento).
  • 13% das brasileiras são favoráveis à descriminalização da maconha. Segundo pesquisa do Datafolha do ano passado, a porcentagem de homens com a mesma opinião é maior: 20%.
  • 67% de todos os antidepressivos vendidos no Brasil são consumidos por mulheres.


    O Adolescente, a Droga e a Criminalidade

    O limite físico suportável por uma pessoa que começou a usar drogas na juventude e permanece, variará conforme a droga ingerida. Os efeitos das drogas variam de pessoa para pessoa e de droga para droga.
    O tempo de vida do adolescente dependente é difícil de afirmar. A morte por overdose (uso fatal de uma ou mais drogas ao mesmo tempo) depende da forma como se usa e por que se usa (suicídio ou não).
    Contudo, constatamos que cresceu a mortalidade de jovens de 15 a 24 anos no período de 1968 a 1994. Esta mortalidade crescente não vem ocorrendo exclusivamente pelo uso direto das drogas, mas sobretudo pela rede de conseqüências geradas pelo envolvimento com os tóxicos. O maior número de mortes ultimamente tem sido de indivíduos de 14 a 39 anos, do sexo masculino, dentro do quadro do crime organizado em torno do tráfico de drogas e armas. Isso tem correspondido a 80% das mortes.
    No mercado de drogas não existe fiado. Quem não paga a vista morre. No ano passado, a dívida pela compra da droga foi o principal motivo do assassinato de menores: 60% dos mortos.
    O usuário de drogas se envolve com o traficante, muitas vezes rouba, assalta para pagar aqueles que o ameaçavam de morte. Muitos deles acabam se envolvendo em gangues para se auto-afirmarem, sentindo-se mais fortes e poderosos ou até mesmo para conseguir o dinheiro da compra da droga.
    38,1% dos jovens que usam crack se envolvem em tráfico de drogas e 47,6% apresentam antecedentes de envolvimento com polícia e prisão.
    No Rio de Janeiro, assim como em outras grandes cidades do Brasil, o crime organizado formou um verdadeiro poder paramilitar em vários pontos estratégicos, entregando armas moderníssimas nas mãos de meninos. Em qualquer favela do Rio encontram-se garotos de 16, 17 anos com uma R 15 na mão.
    Os adolescentes que buscam as drogas passam a conviver com o meio ilícito, ou seja, o meio da marginalidade com pessoas de caráter duvidoso. Essa convivência tem sido a causadora de muitas e muitas mortes de jovens no Brasil.


    Outras Transgressões

    Além do consumo de drogas, existem outros meios que o adolescente encontra para transgredir normas.
    Uma delas é fazendo racha ou pega: adolescentes, muitas vezes menores de 18 anos, pegam seus carros ou os carros dos pais e confundem ruas com pistas de corrida.
    No fim de semana, a turma pega um carro para dar umas voltas, vai a uma festa, o motorista bebe, corre na volta... E, então, ocorrem os numerosos desastres de trânsito. O exemplo mais claro de que isso acontece são os rachas, como se diz em São Paulo, ou os pegas.
    Os pegas são proibidos, reprimidos pela polícia e sujeitos a multa de até 492 reais. E se nada disso é suficiente para desencorajar nem mesmo as meninas (várias delas participam), menos ainda os meninos.
    As meninas, é verdade, curtem mais o lado social dos rachas, que costumam ser animados. Nas noites de sexta a domingo, os postos de gasolina viram pontos de encontro. Os rachadores - ou raladores - procuram as avenidas largas, de preferência com rotatórias para a corrida ter ida e volta. O programa se estende pela madrugada. O assunto é um só: motores e turbos.
    Há vários tipos de rachadores: os mais malandros, que pegam um carro velho e barato e investem no motor; os playboys, que têm carros modernos e equipados e gostam de se exibir; e os pilotos frustados, que gostam também de participar de rachas organizados em autódromos.
    O problema principal é que as corridas acontecem sem segurança para corredores, platéia e qualquer um que passe. Um racha pode acontecer em qualquer lugar: é só um motorista se sentir desafiado por outro. Para se identificar, os corredores usam códigos, grudam adesivos nas laterais do carro ou acendem o pisca-alerta. Os meninos garantem que é tudo na boa, só pra brincar. Mentira. Dirigindo a 140 quilômetros por hora, com o pára-choque grudado na traseira do carro da frente, é fácil perder o controle, e quando isso ocorre...

    BATENDO EM NÚMEROS:

  • 25 000 pessoas morrem por ano no trânsito do Brasil.
  • Outras 300 000 saem dos acidentes feridas. 180 000 delas, com lesões permanentes.
  • A causa: falha humana em 90% dos desastres.
  • 41% dos mortos têm entre 15 e 34 anos.
  • 90% dos desastres que envolvem motoristas jovens são causados por imaturidade ou inexperiência.
  • No estado de São Paulo, em 1993, 82% dos adolescentes que morreram no trânsito eram meninos.
  • 74% dos desastres em estrada acontecem com tempo bom, 60% durante o dia e em trechos de reta e 51% envolvem um único veículo. Velocidade, manobras radicais e consumo de álcool são as principais causas.
  • Na cidade de São Paulo, a cada 15 horas morre um jovem no trânsito.
  • Em 1993, 177 adolescentes que morreram no trânsito em SP, 82% eram meninos.
  • Motoristas com idade entre 16 e 19 anos se envolvem em quatro vezes mais acidentes fatais do que motoristas com idade entre 30 e 54 anos.

    Dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), da Polícia Rodoviária Federal, do SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) e do PARE (Programas de Redução de Acidentes nas Estradas)

    Outra transgressão bastante atraente ao adolescente é dirigir sem carteira de motorista, com o próprio carro dos pais e geralmente sem o conhecimento destes. Os motivos normalmente são: desejo de aventura; não depender dos outros para se locomover; o prazer de dominar a "máquina"; ser uma novidade; simples vontade de infringir as leis; se sentir mais velho e com mais maturidade; atrair as meninas; jogar com a sorte; a facilidade com que se suborna os policiais; auto-afirmação; demonstração de riqueza; entre outros.

    Pichar muros é um dos "feitos" mais emocionantes para um jovem que gosta de se aventurar e viver em constante perigo. Os adolescentes fazem isso com o objetivo de demarcar o seu território (tal como os animais que delimitam pela urina). Eles procuram a sensação de poder - quanto mais alto, mais difícil o acesso, mais policiado e mais sagrado, melhor. Quem consegue pichar um desses lugares, como no caso do Cristo Redentor, é respeitadíssimo pela gangue.
    Os pichadores não se preocupam em escrever palavras de ordem, nem manifestam revolta com alguma situação social. Apenas rabiscam seus logotipos para deixar claro que estiveram ali.
    Uma da frases que ficou famosa na época em que foi escrita - a alguns anos atrás -, nos muros da cidade do Rio de Janeiro, foi esta: Celacanto provoca maremoto. Ninguém sabia o significado dela e por isso foi alvo das mais diversas especulações a respeito.
    Sem dúvida, não deixa de ser um ato de vandalismo, falta de respeito (geralmente são muros limpinhos) e até mesmo de maldade.

    Falsificar carteira é muito comum entre adolescentes menores de 18 anos. A maioria deles são meninas. Pois como sabemos elas amadurecem mais rápido que os meninos e, conseqüentemente, quase todas namoram caras mais velhos. Sendo assim, são "obrigadas" a freqüentar os lugares que o namorado vai.
    Os locais onde ocorre mais "azaração" são boates e barzinhos, lugares proibidos para menores de idade, gerando essa massificação de carteiras falsas. Imagina que vergonha ser barrado na porta de uma boate! Para o jovem, isso jamais poderia acontecer porque seria como se o mundo desabasse (tudo é muito exagerado, é claro).
    Organizar um grupo e zoar em qualquer lugar é muito fácil, mas qual é a aventura? Qual o perigo? Cadê a graça? O perigo e a audácia de estar numa boate ilegalmente é mais delicioso de ser vivido.
    Pensando nisso, algumas boates até permitem a entrada de menores com o intuito de lucrar mais, mas acabam se prejudicando ou com o juizado de menores ou com o desinteresse do jovem já que o lugar deixou de ser um desafio.
    A facilidade de falsificar uma carteira de identidade é um dos motivos pelos quais tanto adolescente o faz. É muito difícil de acontecer algo com o jovem por parte da polícia, dos pais ou da justiça.

    Desobedecer os pais não chega nem a ser transgressão mais. Já se tornou tão normal e corriqueiro que os pais e a sociedade se acostumaram.


    Depoimentos

    "O que é uma lei? Para quê realmente ela existe? Pelo prazer de proibir e acabar vendo-se descumprida? Quem as criou deve ter sido algum adolescente reprimido ou então não entendeu nada pela qual, um dia, passou.
    Lei (do lat. lege) s.f. - Regra de direito ditada pela autoridade estatal e tornada obrigatória para manter, numa comunidade, a ordem e o desenvolvimento. (dicionário Aurélio).
    Isto é o que está escrito no dicionário e serve apenas para termos certeza de que, quando criadas, tinham um objetivo. Mas, na realidade "ela" não se faz presente e, está aí, apenas para sabermos que podemos e iremos - nós adolescentes - fazermo-nos mais presentes que "ela".
    O que fazemos não tem a transgressão como básico intuito apesar de sermos taxados sempre como se tivéssemos tal intenção. A nossa vontade maior é nos divertir, por não termos compromissos sérios como cidadãos (alguns até os têm), às vezes passamos de nossos próprios limites. E o que é isso? Erro ou vadiagem? Será que somos tão inconseqüentes quanto nos acusam?
    Todas essas repreensões verbais e morais não são atribuídas ao cumprimento da lei e sim, com "vista grossa" por quem consideramos nossos exemplos para o futuro - pais e educadores. Eles nos fazem questionar se essa fase pela qual estamos passando não seria ilegal, "imprópria para menores".
    O adolescente não pode, o adolescente não entende, não tem responsabilidade para distinguir o certo do errado, o que é o limite e onde ele está. Então, por quê não nos dão tais responsabilidades? Quem sabe assim não passemos menos falados, mais ilesos de tantas pressões?
    Erramos, transgredimos, porque precisamos desses erros para aprender e para que possamos discernir o que, para nossas vidas individuais e coletivas (sabemos que somos seres ativos numa sociedade), será melhor e, assim enxergarmos o limite de tudo que nos cerca.
    Queremos o mundo e nos achamos donos dele, mas quem nunca quie ou não continua querendo?! O poder e a verdade de nossas vidas a nós pertencem e por quê não usufruir de todo esse poder? É lógico, que por isso extrapolamos um pouco, mas apesar de censurados, ainda sem compromisso podemos fazê-lo.
    Um dia, um tal de Mario Quintana (o meu conceito seria maior se fosse a Janes Joplin!), um grande poeta brasileiro, escreveu: "se eu fosse um fantasma... não, eu não lhe faria nada: o melhor do susto é esperar por ele". Eu, como adolescente, e porta-voz de muitos outros, faria muita coisa ..."

    Uma adolescente

  • Depoimento de uma adolescente brasileira, junho/1996.

    M.L.B. resolveu passar no vermelho e acabou batendo num carro. Era menor de idade e só tinha ido dar uma volta no quarteirão com a moto.
    "Era final de tarde e eu tinha ido de moto até a casa de uma amiga, bem perto da minha. Só dar uma volta, mas eu estava de capacete e tudo. Fiquei parada num cruzamento um tempão, até que virou o verde para os pedestres. Como não tinha pedestre, fui avançar no vermelho. Mas o cara na outra pista, que ia fazer o retorno, também avançou. Me acertou, eu caí, bati com o rosto no painel da moto e quebrei o nariz. O sangue todo me deixou tonto e acabei indo parar no hospital, nem lembro como. O outro cara fugiu. O pior da história veio depois: tiraram radiografia no hospital e disseram que estava tudo bem. Mas não estava. Em casa, tive uma espécie de convulsão e minha mãe teve que me levar de volta correndo. Fizeram eletro e descobriram que eu estava com amnésia. Fiquei um tempão mal, ia para a escola e não lembrava de nada, inventava umas histórias do meu pai, do acidente, nem sei. Melhorei com o tempo, mas não gosto nem de falar daquela sensação: você perde a referência, noção do tempo. Foi horrível, meu pai chegou a colocar grades nas janelas do apartamento com medo de que eu pulasse."

  • M.L.B., 23 anos

    "Roubei dinheiro e cheques da carteira do meu pai, falsifiquei a assinatura dele e até paguei outros garotos para assaltar o seu escritório. Para comprar crack, roubava carro e assaltava, à mão armada, na porta do banco."

  • Jonas, 16 anos, um garoto de classe média, de São Paulo, que aos 15 anos se viciou em crack e já foi internado duas vezes no Nedeq, em Minas Gerais.

    Até os 12 anos, Elizabeth era daquelas garotas que senta na primeira fila do colégio. Era quieta e estudiosa. Mas era também insegura. Tinha poucas amigas e se achava feia e desengonçada. Seu modelo era uma prima, quatro anos mais velha, desembaraçada e sempre cheia de gente ao redor. Incentivada pela prima, Elizabeth cheirou benzina pela primeira vez. No começo, meio a contragosto. Mas, por curiosidade ou por medo de dizer não, experimentou e gostou. Logo em seguida, fumou maconha e, aos 13 anos, incentivada pelo grupo da prima, experimentou cocaína. Não parou mais. Cheirava até no banheiro da escola, um colégio tradicional de classe média, instalado num bairro nobre de São Paulo. Nessa época, a droga era a compensação para tudo que acontecia de mau na sua vida. Brigas, nota baixa... tudo perdia a importância, depois de uma fileira de cocaína. Aos 14 anos, com a família sem dinheiro para pagar uma escola particular, ela foi transferida para um colégio público. Um golpe que ela compensou com mais droga, a anestesia a que tantos adolescentes recorrem, quando assaltados pelas angústias normais dessa fase. "Para que ia agüentar meus medos se podia ficar louca e esquecer tudo?"
    Para comprar droga, roubou dinheiro das amigas e levou de sua casa tudo que podia ser vendido. A mãe, Paula, como geralmente acontece nesses casos, foi a última a descobrir. "No início, acreditava em todas as mentiras que ela contava. Inventava médicos para conseguir dinheiro, amigas, viagens... Só desconfiei que de não se tratava apenas de rebeldia de adolescente quando ela se viciou em crack porque começou a não voltar mais para casa", diz Paula. "E eu mais de uma vez saí de táxi a procura dela."
    Elizabeth tinha 15 anos quando experimentou o crack. Na porta da casa do seu namorado, um rapaz perguntou se eles precisavam de "pedreiro" e mostrou o crack. Eles não quiseram. Um amigo, no entanto, aceitou a oferta. Comprou e ofereceu uma "pipada". Foi o que bastou. "Na terceira vez que usei, já começou a me dar ‘fissura’." Em dois meses, ela já tinha perdido 16 quilos. Numa das vezes em que fumou crack na rua com os amigos, Elizabeth ficou tão alucinada que dividiu por uma noite a calçada de uma praça com mais de dez mendigos. Acordou assustada no meio deles, na manhã seguinte.
    Paula internou a filha numa fazenda no Rio de Janeiro, contra a vontade dela. No início Elizabeth resistiu. Não queria ficar lá. Depois, começou a se emocionar com as histórias. Viu nos rostos dos outros internos aquilo que não conseguira ver em si mesma. Conheceu gente que matou para comprar crack e muitos dependentes de drogas com AIDS. "Fiquei assustada quando me dei conta de até aonde a gente pode chegar", diz ela. Elizabeth passou seis meses internada na fazenda. Muitos de seus companheiros recaíram, mas ela está há nove meses sem usar entorpecentes. "Quando sinto muita vontade, me lembro de uma foro que tirei antes de ser internada e consigo evitar", conta. Hoje, aos 17 anos, ela não estuda e tem poucos amigos. Aprende capoeira e, pela primeira vez, em muitos meses, tem planos e voltou a falar em futuro. "Pretendo voltar a estudar e ser física nuclear", diz. Dita por qualquer outro adolescente, seria uma frase banal. Na voz de Elizabeth, há um lastro de dor e de esperança. É o projeto de alguém que tem pela frente uma batalha pela abstinência. Mas é também projeto de uma menina que quase perdeu o futuro e agora luta para tê-lo de volta. Como gente grande.


    Entrevista

    Entrevista com o Dr. Marcos Alexandre Muraro Gebara, médico psiquiatra: Presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, diretor da Associação Psiquiátrica do Estado do Rio de Janeiro, chefe da clínica do Hospital Central Aristarco Pessoa, diretor técnico do Núcleo Integrado de Psiquiatria, tenente-coronel médico do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro.

    1) Quais os motivos que levam o adolescente a transgredir regras?
    R: Não é necessário que o adolescente tenha que transgredir regras, porém existe uma tendência natural de contestação e questionamento que leva o adolescente a um confronto simbólico com os pais e por extensão com a sociedade.

    2) Muitos jovens, hoje em dia, vêem nas drogas uma solução para os problemas vividos nessa etapa da vida. Quais os prejuízos que ele terá na sua vida adulta?
    R: O uso abusivo de drogas leva comprovadamente a danos cerebrais irreversíveis, cuja conseqüência é um déficit variável das funções cognitivas.

    3) Quais são os sintomas da dependência química? E psíquica?
    R: A dependência pode ter vertentes físicas e psíquicas. Na vertente física os sintomas mais comuns são os relativos à síndrome de abstinência (sintomas corporais). Na vertente psíquica a ansiedade pelo uso da droga pode levar o usuário à condutas delituosas.

    4) Você é a favor da descriminalização da maconha? E a legalização?
    R: Não.

    5) A maconha leva a outras drogas?
    R: Certamente.

    6) Quais são os tratamentos para o jovem drogado?
    R: Existem muitos métodos para o tratamento de drogados, sendo que os mais eficientes são os métodos baseados nos grupos de ajuda mútua, sendo necessário, às vezes, a internação hospitalar.

    7) Cite algumas drogas que geram dependência física:
    R: O álcool, a heroína, a cocaína e o crack.

    8) As campanhas contra as drogas de alguma forma incentivam o adolescente a experimentá-las?
    R: Não. As campanhas quando bem feitas são esclarecedoras e podem evitar o uso de drogas por parte de jovens.

    9) Sempre que se fala em drogas pensa-se em cocaína, crack, maconha... Outras, tais como calmantes e anfetaminas não são consideradas drogas pelas pessoas. Qual a conseqüência disso?
    R: Anfetaminas são consideradas drogas. Podem ser altamente danosas. Seu uso deve obedecer a um rígido controle das autoridades sanitárias e médicas. Já os calmantes que também podem ocasionar dependência não estão sujeitos a um controle tão rígido e portanto o uso é mais indiscriminado.

    10) O quê deveria ser feito para que o jovem não necessitasse tanto infringir normas?
    R: Boa inserção social e familiar, resultando em diálogo aberto e atividades salutares e produtivas.

    11) Pais viciados influenciam o jovem a usar drogas?
    R: Sim. O ambiente facilitador para o consumo de drogas e exemplo da própria casa certamente serão perniciosos neste aspecto.


    Soluções

    Para o problema das drogas

    Estão previstas na Constituição leis que têm como objetivo evitar o consumo de drogas. A lei atualmente em vigor é de 1976. "No que diz respeito a penalização, o artigo 12 trata da produção e do tráfico de entorpecentes com penas previstas de 3 a 15 anos, e o artigo 16 trata da posse ou porte da droga, com penas previstas de 6 meses a 2 anos."
    Entretanto, o problema das drogas não se resolve somente com medidas policiais. É importante um amplo debate para prevenir o seu consumo entre os adolescentes e esclarecer não somente sobre as drogas ilícitas, mas também sobre os malefícios das lícitas. As informações sobre as drogas são muito importantes para efeito preventivo. Por isso, faz-se necessário as campanhas que abordem de uma forma clara e simples os prejuízos da toxicomania e o perigo das abordagens por parte de traficantes que hoje chegam a se postar junto a escolas.
    Uma das maiores dificuldades encontradas pelas autoridades de impedir a disseminação das drogas entre os jovens é justamente essa facilidade que eles têm de adquiri-las. Em quase todos os lugares freqüentados por adolescentes hoje em dia há fornecedores de maconha, cocaína, heroína, etc. Inclusive, nas primeiras experiências do jovem com a droga, o traficante não cobra por ela, esperando até ele se viciar e se tornar dependente para "sugar" dinheiro do usuário, que chega até a roubar para sustentar seu vício.
    Os adolescentes não têm como escapar das questões das drogas. Como não há programas educacionais para esclarecê-los, aprendem sobre as drogas, com os colegas, muitas vezes pondo em risco a própria vida.
    Acredita-se que a conscientização dos jovens venha a diminuir a possibilidade de consumo de drogas por estes mesmos. Porém, até hoje as campanhas pouco têm atingido os adolescentes porque escondem os males das drogas para a sociedade. Indicam aos pais e autoridades medicamentos para os dependentes, ao invés, de incentivarem o diálogo esclarecedor das implicações causadas por todas as espécies de drogas.
    Atualmente, no Brasil, os problemas relacionados com o uso de drogas, de seu controle e tratamento, deveriam preocupar familiares, profissionais de saúde, educação e autoridades governamentais. Isto porque a cada dia aumenta o número de jovens dependentes químicos. Para uma mudança efetiva, o Estado deve assumir posições bem definidas.
    Para isso temos no Rio de Janeiro, o CONEN (Conselho Estadual de Entorpecentes do Rio de Janeiro), o mais antigo do Brasil, que coordena as políticas de drogas no estado do Rio. O então vice- presidente afirma que, a partir de 1987, o CONEN passou a ouvir e dar direito de voto à FAMERJ, ABI, UNE... Inclusive passou a receber usuários, pais, escolas, gratuitamente.
    No caso do álcool, a legislação deveria exigir um tempo igual ao das propagandas em rádio e televisão para mensagens sobre saúde e os danos causados pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Os adolescentes que estão sujeitos a um bombardeio constante de propagandas que mostram as glórias do álcool, têm o direito de ouvir o outro lado da história.
    Há também grupos de ajuda mútua como os Narcóticos Anônimos, Alcoólicos Anônimos, Grupos Familiares Al-Anon (para os parentes e amigos de alcoólatras) e o Alateen (para filhos adolescentes de alcoólicos),que oferecem auto-recuperação e são gratuitos.
    Os Alcoólicos Anônimos (AA) intencionam oferecer um programa espiritual de vida por meio do qual o alcoólatra pode obter sobriedade, paz e felicidade. Foi fundada em 1935 in Akron, Ohio. Existem, atualmente, grupos em todos EUA, no Canadá e em 90 outros países. A matriz fica na cidade de Nova Iorque. O programa de A.A. é de total abstinência do álcool. Os membros simplesmente evitam o primeiro gole, um dia de cada vez. A sobriedade é mantida através do compartilhar de experiências, forças e esperanças nas reuniões de grupos e através dos Doze Passos sugeridos para recuperação do alcoolismo. Os 12 passos de Alcoólicos Anônimos são:
    1º) Admitimos que éramos impotentes perante o álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre as nossas vidas.
    2º) Viemos a a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.
    3º) Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma e que O concebíamos.
    4º) Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
    5º) Admitimos, perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas.
    6º) Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
    7º) Humildemente, rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
    8º) Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.
    9º) Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
    10º) Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.
    11º) Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade em relação a nós e forças para realizar esta vontade.
    12º) Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades.
    Os Narcóticos Anônimos utilizam os mesmo 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, com as devidas adaptações.
    Existem, ainda, terapias baseadas na Psicanálise em ambulatórios e centros de recuperação particulares.
    Contudo, uma das soluções mais eficazes, sem dúvida nenhuma, é o limite, imposto pelos adultos, principalmente os pais e familiares, de forma clara e definida. Não de maneira autoritária e superior, mas de modo que oriente o adolescente e faça com que ele entenda o perigo da droga e os benefícios que ele terá encarando a vida de forma "limpa", real.
    A família é de fundamental importância na transmissão de valores que preparam o adolescente para tornar-se um adulto, não o deixando entregue às lacunas da depressão que precisam ser preenchidas. Esse jovem precisa de limites, pois ele está sempre testando para saber até onde pode chegar. O papel dos pais é essencial nessa busca incessante do jovem por novas sensações e nessa tentativa de fugir do mundo real. A droga entra na vida do adolescente para ocupar um espaço vazio. Os jovens envolvidos em atividades com sentido e que têm objetivos na vida, raramente se tornam vítimas da droga. É imprescindível, portanto, que os pais incentivem seus filhos a exercerem alguma atividade produtiva: um esporte, um curso de teatro, computação ou pintura, aulas de piano ou violão, enfim, algo de que o adolescente goste, ou até mesmo um trabalho. Na vida do jovem, faz-se necessária uma meta significativa, um grande propósito, para que ele não se sinta perdido e vulnerável às drogas.
    É quando os jovens estão solitários e se sentem rejeitados que as drogas parecem atraentes, por conseguinte, se ele estiver num ambiente social saudável e com amizades verdadeiras, será menos provável o envolvimento com entorpecentes.

    Para os adolescentes que fazem "pega"

    Para controlar essa onda de pegas ou rachas entre adolescentes em todo Brasil, principalmente no Rio e em São Paulo, as autoridades policiais deveriam aplicar severas multas aos motoristas em alta velocidade. E os pais deveriam regular os filhos não permitindo que eles pegassem o carro antes dos 18 anos ou ainda quando, mesmo maiores de idade, fossem imaturos e suscetíveis às provocações no tráfego.
    Como medida de prevenção a desastres, foi feito o novo Código Brasileiro de Trânsito, que aguarda votação no Senado. Ele prevê que, para tirar carteira, todos passem por cursos de primeiros socorros e de como evitar acidentes. Além disso, devem ficar um ano com uma permissão provisória para dirigir, antes de receber a carteira de motorista definitiva. Isso tudo para tentar preparar melhor os milhões de novos motoristas que chegam às ruas todos os anos. No estado americano da Geórgia, por exemplo, programas de educação no trânsito fizeram com que a taxa de acidentes com jovens caísse a quase zero.


    7) Conclusão

    Nesse trabalho sobre transgressão na adolescência, enfatizamos o consumo de drogas por ser a situação mais nociva e que reflete gravemente na vida adulta do indivíduo e na sociedade como um todo. Além de estar muito evidente, no momento, entre os jovens de todas as classes sociais e de todos os lugares.
    Até agora só mostramos o lado negativo e os malefícios da transgressão, porém, de certa forma, ela também tem um lado positivo.
    Foi transgredindo normas, dogmas e "verdades absolutas" que houveram e continuam havendo inovações, descobertas, progresso e desenvolvimento.
    Transgredir é uma forma de contestar e graças a alguns inconformados não vivemos ainda na Idade da Pedra. Por exemplo, se até hoje as mulheres se conformassem em ser apenas "esposas" e nunca tivessem lutado pelos seus direitos de cidadãs, e porque não dizer, de ser humano com idéias próprias, jamais teriam conseguido seu espaço na sociedade. Mulheres como Joana D’Arc, Indira Ghandi, Dona Beja e Leila Diniz foram transgressoras em potencial e atualmente são lembradas com muita admiração.
    Se voltarmos ainda mais no tempo, veremos o maior transgressor da história da humanidade: Jesus Cristo, cuja importância é tanta que o mundo passou a ser dividido em antes e depois Dele.