Mestre Pastinha

 

 
 
 
 
 
 
 

 

Vicente Ferreira Pastinha (1889-1982) - Mestre Pastinha, Descende de pai espanhol e mãe baiana nasceu no dia 5 de abril de 1889 na cidade de Salvador, é considerado o maior capoeirista e todos os tempos.


Começou na arte da capoeira por força da própria vida, conta-se que o princípio de sua vida na roda de capoeiragem aconteceu quando tinha 8 anos , sendo seu mestre o africano Benedito, o que ao vê-lo apanhar de um garoto mais velho, resolveu ensinar-lhe as mandingas, negaças, golpes, guardas e malícias da Angola. O resultado veio logo aparecer , Pastinha nunca mais fora importunado por ninguém.

Foi o maior responsável pela sobrevivência da antiga capoeira. Pastinha vivia na Bahia e ensinou a Capoeira Angola durante uma vida, sempre a preservando em toda a sua originalidade.

"Mestre da Capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda a sua picardia, é um dos seus ilustres, um de seus obás, de seus chefes. É o primeiro em sua arte; senhor da agilidade e da coragem..." - Jorge Amado.

Baiano de Salvador, do Pelourinho, Pastinha foi o grande mestre da Capoeira Angola, aperfeiçoando a arte centenária dos escravos.

Ele organizou uma escola, estabeleceu um método de ensino com base nas antigas tradições e ainda escreveu o primeiro livro do gênero, onde expõe a sua concepção filosófica.

Foi com o Mestre Pastinha que foram instituídas as cores amarelo e preto para o uniforme dos angoleiros e a constituição da bateria composta por três berimbaus, dois pandeiros, um atabaque, um reco-reco e um agogô.

"Capoeira é tudo o que a boca come", dizia ele na sua singular filosofia.

Formou capoeiristas como João Grande, João Pequeno, Gildo Alfinete e tantos outros.

Pastinha dizia: "A capoeira tem muitas coisas. Primeira parte; a capoeira tem seu dicionário; segunda parte: tem seu dicionário; terceira parte : tem seu dicionário e quarta parte ; tem seu dicionário ". Ensinava que quando alguém fosse falar sobre a capoeira dissesse somente o que sabia, "não vá dizer que a capoeira é o que ela não é , nem vá contar o que não viu ninguém falar , então, não vá contar aquilo que não pode contar. Não é todo mundo que vá abrir a boca e dizer eu conheço a capoeira, a capoeira é isso. Nem todos mentais, nem todos sujeitos pode abrir a boca para cantar o que é capoeira não."

O método de Pastinha , ensinando regularmente desde 1910, consiste em golpes desferidos quase em câmara lenta, o capoeirista fica com a maior parte do tempo com o corpo arqueado e sua ginga é de braços soltos e relaxados, porque a tática era se fazer de fraco diante do oponente. "Nossos Movimentos não tem pressa de chegar mas, quando chegam, é de forma harmoniosa", explica Mestre Moraes, um angoleiro que se formou com Mestre João Grande, um discípulo de Pastina que hoje da aulas em Nova York, nos Estados Unidos

Em 1966 , foi como convidado à África integrando a delegação brasileira no festival de Artes Negras de Dakar, e como ele mesmo dizia "Pastinha já foi à África".

Pastinha era dotado de uma resistência física inigualável, pois até os 70 anos disputava com qualquer um andar pela roda pulando de cocorinha, e não perdia.

Em 1970 , fomos levados por Mestre Acordeon à academia de Pastinha onde o conhecemos já praticamente cego. Mesmo assim , presenciamos a festa que ele fez para Acordeon e ouvimos ele dizer: "Diga aos menimos, diga, diga que a verdadeira Capoeira é a Angola". Nunca esquecemos esta cena, da sala pequena que era sua academia, da pobreza generalizada.

Pastinha morreu na miséria, sem muito reconhecimento de seu trabalho. Hoje, ele é reconhecido como o "guardião da Capoeira Angola". Sem ele e os discípulos deixados por ele, a Capoeira Angola teria caido no esquecimento.

Morreu em 13/11/1981, com 92 anos, no abrigo D. Pedro II em Salvador - Bahia, deixando seguidores para dar continuidade à sua obra, uma sexta-feira triste para o Brasil.