Viver em família é uma arte que exige respeito acima de
tudo e calma, muita calma... Pois cada pessoa precisa conquistar o seu
espaço.
1) Relacionamento entre pais e adolescentes
Há quem diga que o espaço de uma pessoa termina quando o
da outra começa. Em família existem universos diferentes
devido a idade, experiência, temperamento... E o importante é
respeitar os limites de cada um.
Na adolescência é comum que se alternem períodos de
intensa sociabilidade com outros de isolamento. O jovem é bastante
egocêntrico e os pais têm que aprender a conhecê-lo e a
entendê-lo a cada dia, a cada mudança.
Eles são capazes de discutir e até de declarar uma
guerra por qualquer assunto banal e os pais são "obrigados" a
adquirir, a tira colo, um manual de equilíbrio. Afinal todos
já passaram por isso e na sociedade em que vivemos é
até normal a excessiva preocupação, mas como tudo na
vida, é imprescindível a moderação.
Na adolescência, os pais colhem boa parte dos frutos que
plantaram anteriormente e a função deles é, antes de
mais nada, orientar.
Os filhos são o reflexo dos pais e da pressão da
sociedade, mas o passaporte para um adulto de sucesso é carimbado
pela educação e o direcionamento dos direitos e deveres
dados por aqueles que acompanharam a maturidade progressiva dos que
farão o futuro.
Segundo os adolescentes, a maioria das famílias brasileiras
segue um modelo de educação que mistura as tendências
moderna e tradicional. Os pais devem ser seguros quanto a
educação que dão aos seus filhos, terem metas, pois
um pai seguro tem menos chance, do que um pai confuso e
contraditório, de deixar os filhos inseguros e com problemas.
Normalmente, os jovens das camadas mais favorecidas têm menos
críticas aos pais, porém não é sempre assim.
Sendo um pai tradicional ou liberal é importante passar para os
filhos os limites, o "não", de forma com que o adolescente concorde
com essa necessidade, mas sem autoritarismo. Um pai liberal não
é necessariamente o melhor e um pai tradicional o pior, ou vice-
versa, mas uma boa educação é aquela onde há
coerência, justiça e muito diálogo. Saber falar e
ouvir é o caminho certo, pois na adolescência a
insegurança é como uma sombra e os adolescentes precisam de
pais que dêem segurança e apoio.
Ao mesmo tempo, os jovens tem que se separar, se tornar independentes
dos pais e, de alguma forma, a melhor maneira que encontram para executar
uma tarefa tão difícil é muitas vezes, destruindo a
imagem de perfeição, criando uma imagem negativa do pai e da
mãe, adotando mil defeitos, criticando, culpando os pais por tudo
que acontece. Mas isso não significa que ele seja contra a
família. Ele precisa se diferenciar, criar sua própria
identidade, por isso tanta necessidade de contestar o que os pais dizem ou
fazem, mesmo que signifique simples teimosia.
Outro atestado de independência dos jovens que os pais precisam
aceitar é o fato de que os amigos assumiram a posição
de confidentes. À medida que se cresce há mais coisas
pessoais, mais segredos. Respeitando-se a privacidade é que
encaminham-se para o crescimento e o amadurecimento.
É preciso conversar com o adolescente utilizando um
caráter de troca, os pais devem ser amigos, mas não devem
exigir a mesma relação que os filhos têm com os amigos
da mesma idade. É pela forma com que acontecem as conversas que o
adolescente decide fazer confidências aos pais ou esconder mais
coisas ainda, mas é preciso o esclarecimento de que tão
importante quanto ter seus segredos é enfrentar com objetividade as
conseqüências de seus atos. E antes de qualquer alarme, os pais
devem diferenciar a mentira da omissão. As omissões
não são como traições à
confiança, mas segredos pessoais. Todos os pais passaram por esta
fase e sabem como é bom fofocar.
Os jovens que fazem mais coisas escondidas são os filhos dos
pais controladores em excesso. Isso prova que quanto mais equilibrados
são os pais, geralmente também os filhos os são.
A família continua ocupando um lugar importantíssimo na
vida dos jovens até porque, na maioria das vezes, eles são,
além de tudo, dependentes economicamente de seus pais.
Jovens se sentem mais à vontade com a mãe na maioria das
vezes, provando que ainda é a mulher que está mais
próxima dos filhos. Mas quando se fala em confidências, os
amigos ocupam o primeiro lugar. Apesar desse fato ser encarado como uma
derrota dos pais, na verdade, ele confirma o crescimento dos filhos e o
seu caminhar seguro à independência.
A independência é importante pois proporciona o
enriquecimento individual, ensina a enfrentar desafios, a conhecer pessoas
e aprender a "se virar", por mais que a vontade seja de ficar ligado com a
mãe pelo cordão umbilical, "embaixo da sua asa". Todos
têm que alcançar um vôo próprio, constituir uma
nova família e sentir na pele o trabalhão que deu para os
queridos e arrasados papais e mamães.
Assim como a independência é importante, a idéia
de participação também é e deve ser
desenvolvida dentro de casa. Se o adolescente é acostumado a
mordomias, ele não vai querer (nem saber) fazer coisas quando
necessárias.
Quanto maior o poder aquisitivo da família, mais raramente os
jovens ajudam nas tarefas de casa. Nas camadas mais baixas, a
participação nos serviços de casa começa cedo
por uma questão de necessidade. Porém, independente da
classe social e sexo é importante que todos ajudem e despertem o
respeito pelo trabalho do outro. Cabe aos pais ensinar os filhos a ter
algumas obrigações não só no serviço
doméstico, pois o mundo é daqueles que tem consciência
dos que lutam, e assim adquirem maior respeito, formando-se hábitos
de organização pessoal e disciplina.
A mulher obtém um perfeccionismo que conduz à
acomodação dos filhos e dos homens em geral. A maioria dos
homens cresceram acostumados a verem a mulher fazer tudo. Esse quadro
está nas mãos dos pais, pois se os filhos forem educados a
participarem, independentemente do sexo, essa visão de que as
mulheres têm que ser donas de casa não faria mais sentido. E
o mais importante de tudo é uma futura responsabilidade. Não
é apenas uma questão de ser pobre ou rico, de ter empregados
ou não ter quem ajude, por mais que os adolescentes não
gostem de ter obrigações, no fundo eles têm
consciência da importância, mas é preciso que a
família trabalhe isto aos poucos, sem autoritarismo. Hoje seriam
pessoas que participam, contribuindo no mundo familiar, amanhã eles
estarão participando da nação. Boa parte do futuro
dos filhos depende dos pais.
Está certo. Participar e dividir as tarefas é
importante, mas uma coisa que os adolescentes não abrem mão
é da privacidade. Quem é que não quer ter um quarto
só para si? Mesmo que se demonstre um modelo individualista, o
adolescente precisa de um canto só seu e muitas vezes os pais
não atendem a isto.
Quando há irmãos o desejo se fortalece. Os pais sonham
com uma relação boa entre os irmãos, coisa que
às vezes é impossível. Mas o relacionamento humano
é assim, exposto a ciúmes, inveja e puro orgulho. É
normal brigas entre irmãos, até porque, mesmo vindos dos
mesmos pais, são pessoas diferentes que têm as suas
próprias dúvidas, inseguranças, opiniões.
Há um espírito de competição sempre, por mais
que seja pouco, e os pais devem mostrar que todos os filhos são
amados de forma igual e investir no futuro de todos igualmente.
Outro fator que constantemente gera conflitos entre pais e filhos
adolescentes é a escola, o estudo, o futuro em que tanto se fala.
É normal que um adolescente, às voltas com um milhão
de estímulos interiores, tenha um decréscimo no seu
desempenho escolar. Por mais que ele reclame do fato de ir à
escola, sabe que é importante, e, mais importante ainda, é o
papel dos pais de mostrarem que estudar é um direito e um dever
também. Cada um estuda para si e não para os pais. Na
sociedade de hoje, é um privilégio ter oportunidade de
cursar um bom colégio. Para ser independente é preciso
conhecimento para se libertar, mas se os pais ensinarem que o
colégio é só obrigação, provavelmente
os filhos não assimilariam a importância que atingirá
no futuro.
Tanto quanto lidar com adolescente, lidar com adultos não
é nada fácil. Quando existem adolescentes na família,
normalmente ele é o culpado de tudo e nunca sabe de nada. Os pais,
por serem mais velhos, conseqüentemente, possuem mais
experiência. Mas isso não quer dizer que eles sejam os donos
da verdade. Infelizmente, ainda há muitos casos em que os pais
fazem da força física um instrumento de autoridade. Bater
não resolve o problema, pois não educa. É
indispensável colocar limites aos filhos, saber dizer "não",
ter autoridade sem ser autoritário. O princípio do castigo
é que ele deve ser proporcional à infração e
ter alguma conexão com ela, mas nunca chegar a bater, pois pode
provocar traumas irreparáveis.
O índice de pais que batem nos seus filhos é maior nas
capitais do que nas cidades interioranas. Pais agressores, encaminham
filhos revoltados e até mesmo violentos à sociedade. Por
mais que o adolescente viva uma fase de "independência ou morte" ele
se espelha muito nos pais e, são os adultos que podem fazer com que
a adolescência seja um bicho de sete cabeças ou uma fase,
realmente difícil. Mas é importante acompanhar as
mudanças dos filhos e relembrar a sua própria fase vendo que
todos nós passamos por mudanças. É necessário
que os pais entendam que os filhos nunca deixarão de ser a coisa
mais importante em suas vidas. Porém, eles, por muitas vezes,
deixarão de ser a coisa mais importante na vida dos filhos,
principalmente na fase da adolescência. Em todas as casas, as coisas
se passam de forma semelhante, em maior ou menor grau, mas o fato é
que não há culpados. O que ocorre são famílias
que não podem fugir de problemas. Aliás, que monotonia seria
uma família certinha!
2) Nossas mamães adolescentes
Em vez de uma boneca, um bebê de verdade. Esse é o caso
de muitas jovens que modificaram toda sua adolescência para criar um
filho.
Muitas meninas não medem as conseqüências e trocam o
mundo sem compromissos por responsabilidades, fraldas e choros noturnos.
Essa substituição da boneca por um bebê aponta para um
problema cada vez mais freqüente que não pode ser resolvido
ignorando-se a sexualidade das jovens. Fazer de conta que elas continuam
crianças ou reprimi-las de nada adianta. É preciso
orientá-las para que se protejam.
Nessa fase, evitar a gravidez é muito difícil, uma vez
que as adolescentes querem tomar conhecimento de coisas novas e se deixam
levar por aquele famoso sentimento: "comigo isso não acontece".
Normalmente o que ocorre é que os garotos quase nunca se
preparam pois acham que as meninas estão prevenidas. Por outro
lado, elas alegam que nunca sabem quando a relação vai
acontecer e que o uso de camisinha quebraria o clima romântico do
primeiro encontro. Mas esse pensamento se modifica depois do famoso
"susto": um atraso menstrual, uma gravidez ou, até mesmo, um
aborto.
Percebemos também que quanto mais baixo o nível de
instrução de um grupo, mais alto o índice de meninas
que engravidam. A maioria conhece a pílula, mas usam de forma
errada. Quanto à camisinha, especialmente os adolescentes,
não têm dinheiro para comprá-la.
Mas o problema mais comum encontrado pelas jovens, independente de sua
classe social é que a maioria não procura o ginecologista.
Ocorre que a atividade sexual da adolescente não é aprovada
pela sociedade.
Ir ao médico, usar camisinha ou tomar pílula
corretamente levaria a garota a reconhecer, para si mesma, que estaria
virando mulher. Engravidar, então, seria admitir o erro e ser
punida por ele. Portanto as adolescentes têm vergonha de se
"programar" (carregando camisinha, por exemplo). Então tudo ocorre
sem proteção ou previsão, como se fosse obra do
acaso.
A falta de informação e de diálogo com os pais
(ou com outros adultos) são as duas principais causas da gravidez
na adolescência.
Em geral, entre pais e filhos a discussão não é
democrática. Quando o garoto ou a garota questionam sobre sexo, a
conversa se transforma em um monólogo paterno ou materno cheio de
boas intenções, mas recheado de preconceitos e
lições de moral. Os adolescentes ficam sem chance nenhuma de
se colocar e acabam perdendo o interesse. Isso faz com que suas
dúvidas e desabafos fiquem reprimidos, contribuindo ainda mais para
que se sintam pressionados.
Mesmo os jovens que dizem conhecer "tudo" sobre sexo e
reprodução não interiorizam as
informações que recebem. Há um distanciamento entre a
ciência e a realidade. Eles não conseguem relacionar seu
corpo com aquele descrito nas aulas de biologia.
Muitos deles passam por conflitos interiores sem que os pais percebam.
Se olham no espelho e só vêem espinhas. São magras,
gordas; altas ou baixas demais. Algumas dizem: "Meus pais não me
aceitam como eu sou". Outras pensam: "Meus amigos me rejeitam. Quero ser
igual a todo mundo mas não sei como".
O problema é que quanto mais baixa é a auto-estima,
maior é o risco de uma gravidez precoce. Para se afirmarem, os
garotos precisam transar com quem pintar pela frente. E as meninas
carentes acabam concordando, com medo de perder um afeto tão
difícil de conseguir. Contudo, além da gravidez, ainda
há o risco da transmissão da AIDS.
Devemos lembrar ainda que os pais não são os
únicos responsáveis pelos erros de seus filhos, pois
não têm total controle sobre os equívocos ocorridos em
suas cabeças. Como evitar que vejam as propagandas na
televisão, que elegeram o erotismo como grande valor do
século? As novelas de TV, que os ensinam a crer que todos podem
transar com todos, e no final ninguém sai magoado, e tudo se ajeita
no último capítulo? Como enfiar em suas cabeças que a
realidade não é bem assim?
A sociedade contribui bastante para o aumento dos índices de
gravidez precoce.
Na realidade o que ocorre é que há uma grande
confusão na cabeça dos adolescentes, principalmente das
garotas. Elas desconhecem o próprio corpo e não se atrevem a
pedir explicação. Por outro lado, a televisão
bombardeia suas cabeças com cenas de sexo a todo instante.
3) Separação
Antigamente, ter pais separados era visto pelos jovens de forma bem
diferente, já que o número de casais separados era
notoriamente menor. Os adolescentes, cujos pais se separaram há
bastante tempo, provavelmente passaram pelo problema, entre tantos outros,
de fazer parte da exceção. Nos dias de hoje, pode-se dizer
que a exceção já é o grupo inverso, já
são os casais que ainda vivem juntos.
Quando acaba o amor, ou as brigas tornam-se cada vez mais constantes,
é hora de cada um seguir seu rumo. Mas nem sempre é
tão simples, principalmente quando há filhos. Alguns casais,
erradamente, adiam essa separação por causa de seus filhos,
para protegê-los. Mas até que ponto estão protegendo-
os?
Às vezes é melhor acostumar-se em ver pai e mãe
separados, cada um cuidando de sua vida, do que presenciar
discussões e brigas.
A separação é uma das coisas que mexe mais com a
cabeça do adolescente, já que nessa fase de
transição, qualquer probleminha parece ser o fim do mundo,
quem dirá um problema como este. O mais importante é o
equilíbrio emocional por parte dos pais, para que os filhos
encarem o fato com naturalidade.
Muitos pais, por rancor e mágoa, acabam jogando os filhos
contra o ex-companheiro(a), o que é péssimo para o
adolescente, que está no meio de duas pessoas que ama.
Estar separado não significa necessariamente estar sozinho. Por
que não casar outra vez? Por que não construir outra
família? Talvez ter outros filhos... No entanto, nem sempre os
filhos aceitam esta "nova vida" de forma natural. Mas o que fazer quando
isto acontece? A receita é o equilíbrio: não tomar
decisões sem se preocupar com a reação e
opiniões dos filhos, mas também não deixar que eles
acabem "mandando" na vida dos pais, pois mais tarde serão
independentes e terão suas próprias vidas, e certamente,
serão cobrados pelos pais, já que estes tiveram suas vidas
decididas pelos filhos.
Muitos são os casos de adolescentes que sentem-se culpados pela
separação do pai e da mãe. Esse sentimento não
provém de palavras ou atos dos pais que o comprovem. A culpa
é um sentimento, que como outro qualquer, apenas brota dentro da
gente, muitas vezes sem um motivo racional. De repente pode ser devido ao
fato da separação ter sido ocasionada por uma série
de brigas, que às vezes tomam os filhos como motivo.
Em outros casos, porém, o adolescente não sente culpa,
pois não aconteciam brigas. Como é o caso de uma adolescente
de 16 anos, que tem seus pais separados há onze anos incompletos:
"Nunca presenciei uma briga de meus pais. Eles eram amigos, companheiros e
se amavam muito, porém eram muito diferentes e por isso não
deu certo. Na época freqüentei psicólogas, senti-me a
pior das criaturas, mas não senti culpa, e sim um enorme vazio".
Uma coisa é certa: o melhor para a cabeça de um
adolescente é ter uma relação saudável com os
pais, e também ver esta relação refletir-se entre os
pais. Se estes não conseguem mais conviver de forma passiva,
é melhor que se separem, e mantenham uma boa relação
sendo apenas amigos, pois isso, com toda certeza, refletirá no modo
como seus filhos encararão uma relação no futuro.
Se a separação for a única solução
encontrada, é necessário que ela seja transmitida pelos pais
com a maior tranqüilidade possível, para que não afete
tanto os filhos, e estes possam sofrer o mínimo possível.
Afinal, o objetivo de todo pai e toda mãe é proteger ao
máximo os filhos, nem que para isso seja necessário passar
por cima de inúmeras coisas.