Família

Família (do lat. família) s.f. 1. Pessoas aparentadas, que vivem, em geral, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. 2. Pessoas do mesmo sangue. 3. Conjunto de gêneros afins. 4. Comunidade constituída por um homem e uma mulher, unidos por laço matrimonial, pelos filhos nascidos dessa união. 5. Grupo formado por indivíduos que são ou se consideram consangüíneos um dos outros, ou por descendentes dum tronco ancestral comum (filiação natural) e estranhos admitidos por adoção. 6. Designação tradicional do conjunto de tipos que apresentam as mesmas características básicas. (Dicionário Aurélio)
Pai, mãe, filhos, será que família pode ser definida simplesmente por essas três palavras, de forma tão restrita?
Viver em família não é apenas conviver com pessoas, mas também com sentimentos, problemas, opiniões, medos, críticas, conflitos.
O adolescente vive na transição da infância para a fase adulta e convive com uma mudança de visão do mundo constante.
A família influencia nessa mudança, assim como a mudança influencia na relação familiar.
Viver em família é uma arte que exige respeito acima de tudo e calma, muita calma... Pois cada pessoa precisa conquistar o seu espaço.


1) Relacionamento entre pais e adolescentes

Há quem diga que o espaço de uma pessoa termina quando o da outra começa. Em família existem universos diferentes devido a idade, experiência, temperamento... E o importante é respeitar os limites de cada um.
Na adolescência é comum que se alternem períodos de intensa sociabilidade com outros de isolamento. O jovem é bastante egocêntrico e os pais têm que aprender a conhecê-lo e a entendê-lo a cada dia, a cada mudança.
Eles são capazes de discutir e até de declarar uma guerra por qualquer assunto banal e os pais são "obrigados" a adquirir, a tira colo, um manual de equilíbrio. Afinal todos já passaram por isso e na sociedade em que vivemos é até normal a excessiva preocupação, mas como tudo na vida, é imprescindível a moderação.
Na adolescência, os pais colhem boa parte dos frutos que plantaram anteriormente e a função deles é, antes de mais nada, orientar.
Os filhos são o reflexo dos pais e da pressão da sociedade, mas o passaporte para um adulto de sucesso é carimbado pela educação e o direcionamento dos direitos e deveres dados por aqueles que acompanharam a maturidade progressiva dos que farão o futuro.
Segundo os adolescentes, a maioria das famílias brasileiras segue um modelo de educação que mistura as tendências moderna e tradicional. Os pais devem ser seguros quanto a educação que dão aos seus filhos, terem metas, pois um pai seguro tem menos chance, do que um pai confuso e contraditório, de deixar os filhos inseguros e com problemas.
Normalmente, os jovens das camadas mais favorecidas têm menos críticas aos pais, porém não é sempre assim.
Sendo um pai tradicional ou liberal é importante passar para os filhos os limites, o "não", de forma com que o adolescente concorde com essa necessidade, mas sem autoritarismo. Um pai liberal não é necessariamente o melhor e um pai tradicional o pior, ou vice- versa, mas uma boa educação é aquela onde há coerência, justiça e muito diálogo. Saber falar e ouvir é o caminho certo, pois na adolescência a insegurança é como uma sombra e os adolescentes precisam de pais que dêem segurança e apoio.
Ao mesmo tempo, os jovens tem que se separar, se tornar independentes dos pais e, de alguma forma, a melhor maneira que encontram para executar uma tarefa tão difícil é muitas vezes, destruindo a imagem de perfeição, criando uma imagem negativa do pai e da mãe, adotando mil defeitos, criticando, culpando os pais por tudo que acontece. Mas isso não significa que ele seja contra a família. Ele precisa se diferenciar, criar sua própria identidade, por isso tanta necessidade de contestar o que os pais dizem ou fazem, mesmo que signifique simples teimosia.
Outro atestado de independência dos jovens que os pais precisam aceitar é o fato de que os amigos assumiram a posição de confidentes. À medida que se cresce há mais coisas pessoais, mais segredos. Respeitando-se a privacidade é que encaminham-se para o crescimento e o amadurecimento.
É preciso conversar com o adolescente utilizando um caráter de troca, os pais devem ser amigos, mas não devem exigir a mesma relação que os filhos têm com os amigos da mesma idade. É pela forma com que acontecem as conversas que o adolescente decide fazer confidências aos pais ou esconder mais coisas ainda, mas é preciso o esclarecimento de que tão importante quanto ter seus segredos é enfrentar com objetividade as conseqüências de seus atos. E antes de qualquer alarme, os pais devem diferenciar a mentira da omissão. As omissões não são como traições à confiança, mas segredos pessoais. Todos os pais passaram por esta fase e sabem como é bom fofocar.
Os jovens que fazem mais coisas escondidas são os filhos dos pais controladores em excesso. Isso prova que quanto mais equilibrados são os pais, geralmente também os filhos os são.
A família continua ocupando um lugar importantíssimo na vida dos jovens até porque, na maioria das vezes, eles são, além de tudo, dependentes economicamente de seus pais.
Jovens se sentem mais à vontade com a mãe na maioria das vezes, provando que ainda é a mulher que está mais próxima dos filhos. Mas quando se fala em confidências, os amigos ocupam o primeiro lugar. Apesar desse fato ser encarado como uma derrota dos pais, na verdade, ele confirma o crescimento dos filhos e o seu caminhar seguro à independência.
A independência é importante pois proporciona o enriquecimento individual, ensina a enfrentar desafios, a conhecer pessoas e aprender a "se virar", por mais que a vontade seja de ficar ligado com a mãe pelo cordão umbilical, "embaixo da sua asa". Todos têm que alcançar um vôo próprio, constituir uma nova família e sentir na pele o trabalhão que deu para os queridos e arrasados papais e mamães.
Assim como a independência é importante, a idéia de participação também é e deve ser desenvolvida dentro de casa. Se o adolescente é acostumado a mordomias, ele não vai querer (nem saber) fazer coisas quando necessárias.
Quanto maior o poder aquisitivo da família, mais raramente os jovens ajudam nas tarefas de casa. Nas camadas mais baixas, a participação nos serviços de casa começa cedo por uma questão de necessidade. Porém, independente da classe social e sexo é importante que todos ajudem e despertem o respeito pelo trabalho do outro. Cabe aos pais ensinar os filhos a ter algumas obrigações não só no serviço doméstico, pois o mundo é daqueles que tem consciência dos que lutam, e assim adquirem maior respeito, formando-se hábitos de organização pessoal e disciplina.
A mulher obtém um perfeccionismo que conduz à acomodação dos filhos e dos homens em geral. A maioria dos homens cresceram acostumados a verem a mulher fazer tudo. Esse quadro está nas mãos dos pais, pois se os filhos forem educados a participarem, independentemente do sexo, essa visão de que as mulheres têm que ser donas de casa não faria mais sentido. E o mais importante de tudo é uma futura responsabilidade. Não é apenas uma questão de ser pobre ou rico, de ter empregados ou não ter quem ajude, por mais que os adolescentes não gostem de ter obrigações, no fundo eles têm consciência da importância, mas é preciso que a família trabalhe isto aos poucos, sem autoritarismo. Hoje seriam pessoas que participam, contribuindo no mundo familiar, amanhã eles estarão participando da nação. Boa parte do futuro dos filhos depende dos pais.
Está certo. Participar e dividir as tarefas é importante, mas uma coisa que os adolescentes não abrem mão é da privacidade. Quem é que não quer ter um quarto só para si? Mesmo que se demonstre um modelo individualista, o adolescente precisa de um canto só seu e muitas vezes os pais não atendem a isto.
Quando há irmãos o desejo se fortalece. Os pais sonham com uma relação boa entre os irmãos, coisa que às vezes é impossível. Mas o relacionamento humano é assim, exposto a ciúmes, inveja e puro orgulho. É normal brigas entre irmãos, até porque, mesmo vindos dos mesmos pais, são pessoas diferentes que têm as suas próprias dúvidas, inseguranças, opiniões. Há um espírito de competição sempre, por mais que seja pouco, e os pais devem mostrar que todos os filhos são amados de forma igual e investir no futuro de todos igualmente.
Outro fator que constantemente gera conflitos entre pais e filhos adolescentes é a escola, o estudo, o futuro em que tanto se fala. É normal que um adolescente, às voltas com um milhão de estímulos interiores, tenha um decréscimo no seu desempenho escolar. Por mais que ele reclame do fato de ir à escola, sabe que é importante, e, mais importante ainda, é o papel dos pais de mostrarem que estudar é um direito e um dever também. Cada um estuda para si e não para os pais. Na sociedade de hoje, é um privilégio ter oportunidade de cursar um bom colégio. Para ser independente é preciso conhecimento para se libertar, mas se os pais ensinarem que o colégio é só obrigação, provavelmente os filhos não assimilariam a importância que atingirá no futuro.
Tanto quanto lidar com adolescente, lidar com adultos não é nada fácil. Quando existem adolescentes na família, normalmente ele é o culpado de tudo e nunca sabe de nada. Os pais, por serem mais velhos, conseqüentemente, possuem mais experiência. Mas isso não quer dizer que eles sejam os donos da verdade. Infelizmente, ainda há muitos casos em que os pais fazem da força física um instrumento de autoridade. Bater não resolve o problema, pois não educa. É indispensável colocar limites aos filhos, saber dizer "não", ter autoridade sem ser autoritário. O princípio do castigo é que ele deve ser proporcional à infração e ter alguma conexão com ela, mas nunca chegar a bater, pois pode provocar traumas irreparáveis.
O índice de pais que batem nos seus filhos é maior nas capitais do que nas cidades interioranas. Pais agressores, encaminham filhos revoltados e até mesmo violentos à sociedade. Por mais que o adolescente viva uma fase de "independência ou morte" ele se espelha muito nos pais e, são os adultos que podem fazer com que a adolescência seja um bicho de sete cabeças ou uma fase, realmente difícil. Mas é importante acompanhar as mudanças dos filhos e relembrar a sua própria fase vendo que todos nós passamos por mudanças. É necessário que os pais entendam que os filhos nunca deixarão de ser a coisa mais importante em suas vidas. Porém, eles, por muitas vezes, deixarão de ser a coisa mais importante na vida dos filhos, principalmente na fase da adolescência. Em todas as casas, as coisas se passam de forma semelhante, em maior ou menor grau, mas o fato é que não há culpados. O que ocorre são famílias que não podem fugir de problemas. Aliás, que monotonia seria uma família certinha!


2) Nossas mamães adolescentes

Em vez de uma boneca, um bebê de verdade. Esse é o caso de muitas jovens que modificaram toda sua adolescência para criar um filho.
Muitas meninas não medem as conseqüências e trocam o mundo sem compromissos por responsabilidades, fraldas e choros noturnos. Essa substituição da boneca por um bebê aponta para um problema cada vez mais freqüente que não pode ser resolvido ignorando-se a sexualidade das jovens. Fazer de conta que elas continuam crianças ou reprimi-las de nada adianta. É preciso orientá-las para que se protejam.
Nessa fase, evitar a gravidez é muito difícil, uma vez que as adolescentes querem tomar conhecimento de coisas novas e se deixam levar por aquele famoso sentimento: "comigo isso não acontece".
Normalmente o que ocorre é que os garotos quase nunca se preparam pois acham que as meninas estão prevenidas. Por outro lado, elas alegam que nunca sabem quando a relação vai acontecer e que o uso de camisinha quebraria o clima romântico do primeiro encontro. Mas esse pensamento se modifica depois do famoso "susto": um atraso menstrual, uma gravidez ou, até mesmo, um aborto.
Percebemos também que quanto mais baixo o nível de instrução de um grupo, mais alto o índice de meninas que engravidam. A maioria conhece a pílula, mas usam de forma errada. Quanto à camisinha, especialmente os adolescentes, não têm dinheiro para comprá-la.
Mas o problema mais comum encontrado pelas jovens, independente de sua classe social é que a maioria não procura o ginecologista. Ocorre que a atividade sexual da adolescente não é aprovada pela sociedade.
Ir ao médico, usar camisinha ou tomar pílula corretamente levaria a garota a reconhecer, para si mesma, que estaria virando mulher. Engravidar, então, seria admitir o erro e ser punida por ele. Portanto as adolescentes têm vergonha de se "programar" (carregando camisinha, por exemplo). Então tudo ocorre sem proteção ou previsão, como se fosse obra do acaso.
A falta de informação e de diálogo com os pais (ou com outros adultos) são as duas principais causas da gravidez na adolescência.
Em geral, entre pais e filhos a discussão não é democrática. Quando o garoto ou a garota questionam sobre sexo, a conversa se transforma em um monólogo paterno ou materno cheio de boas intenções, mas recheado de preconceitos e lições de moral. Os adolescentes ficam sem chance nenhuma de se colocar e acabam perdendo o interesse. Isso faz com que suas dúvidas e desabafos fiquem reprimidos, contribuindo ainda mais para que se sintam pressionados.
Mesmo os jovens que dizem conhecer "tudo" sobre sexo e reprodução não interiorizam as informações que recebem. Há um distanciamento entre a ciência e a realidade. Eles não conseguem relacionar seu corpo com aquele descrito nas aulas de biologia.
Muitos deles passam por conflitos interiores sem que os pais percebam. Se olham no espelho e só vêem espinhas. São magras, gordas; altas ou baixas demais. Algumas dizem: "Meus pais não me aceitam como eu sou". Outras pensam: "Meus amigos me rejeitam. Quero ser igual a todo mundo mas não sei como".
O problema é que quanto mais baixa é a auto-estima, maior é o risco de uma gravidez precoce. Para se afirmarem, os garotos precisam transar com quem pintar pela frente. E as meninas carentes acabam concordando, com medo de perder um afeto tão difícil de conseguir. Contudo, além da gravidez, ainda há o risco da transmissão da AIDS.
Devemos lembrar ainda que os pais não são os únicos responsáveis pelos erros de seus filhos, pois não têm total controle sobre os equívocos ocorridos em suas cabeças. Como evitar que vejam as propagandas na televisão, que elegeram o erotismo como grande valor do século? As novelas de TV, que os ensinam a crer que todos podem transar com todos, e no final ninguém sai magoado, e tudo se ajeita no último capítulo? Como enfiar em suas cabeças que a realidade não é bem assim?
A sociedade contribui bastante para o aumento dos índices de gravidez precoce.
Na realidade o que ocorre é que há uma grande confusão na cabeça dos adolescentes, principalmente das garotas. Elas desconhecem o próprio corpo e não se atrevem a pedir explicação. Por outro lado, a televisão bombardeia suas cabeças com cenas de sexo a todo instante.


3) Separação

Antigamente, ter pais separados era visto pelos jovens de forma bem diferente, já que o número de casais separados era notoriamente menor. Os adolescentes, cujos pais se separaram há bastante tempo, provavelmente passaram pelo problema, entre tantos outros, de fazer parte da exceção. Nos dias de hoje, pode-se dizer que a exceção já é o grupo inverso, já são os casais que ainda vivem juntos.
Quando acaba o amor, ou as brigas tornam-se cada vez mais constantes, é hora de cada um seguir seu rumo. Mas nem sempre é tão simples, principalmente quando há filhos. Alguns casais, erradamente, adiam essa separação por causa de seus filhos, para protegê-los. Mas até que ponto estão protegendo- os?
Às vezes é melhor acostumar-se em ver pai e mãe separados, cada um cuidando de sua vida, do que presenciar discussões e brigas.
A separação é uma das coisas que mexe mais com a cabeça do adolescente, já que nessa fase de transição, qualquer probleminha parece ser o fim do mundo, quem dirá um problema como este. O mais importante é o equilíbrio emocional por parte dos pais, para que os filhos encarem o fato com naturalidade.
Muitos pais, por rancor e mágoa, acabam jogando os filhos contra o ex-companheiro(a), o que é péssimo para o adolescente, que está no meio de duas pessoas que ama.
Estar separado não significa necessariamente estar sozinho. Por que não casar outra vez? Por que não construir outra família? Talvez ter outros filhos... No entanto, nem sempre os filhos aceitam esta "nova vida" de forma natural. Mas o que fazer quando isto acontece? A receita é o equilíbrio: não tomar decisões sem se preocupar com a reação e opiniões dos filhos, mas também não deixar que eles acabem "mandando" na vida dos pais, pois mais tarde serão independentes e terão suas próprias vidas, e certamente, serão cobrados pelos pais, já que estes tiveram suas vidas decididas pelos filhos.
Muitos são os casos de adolescentes que sentem-se culpados pela separação do pai e da mãe. Esse sentimento não provém de palavras ou atos dos pais que o comprovem. A culpa é um sentimento, que como outro qualquer, apenas brota dentro da gente, muitas vezes sem um motivo racional. De repente pode ser devido ao fato da separação ter sido ocasionada por uma série de brigas, que às vezes tomam os filhos como motivo.
Em outros casos, porém, o adolescente não sente culpa, pois não aconteciam brigas. Como é o caso de uma adolescente de 16 anos, que tem seus pais separados há onze anos incompletos: "Nunca presenciei uma briga de meus pais. Eles eram amigos, companheiros e se amavam muito, porém eram muito diferentes e por isso não deu certo. Na época freqüentei psicólogas, senti-me a pior das criaturas, mas não senti culpa, e sim um enorme vazio".
Uma coisa é certa: o melhor para a cabeça de um adolescente é ter uma relação saudável com os pais, e também ver esta relação refletir-se entre os pais. Se estes não conseguem mais conviver de forma passiva, é melhor que se separem, e mantenham uma boa relação sendo apenas amigos, pois isso, com toda certeza, refletirá no modo como seus filhos encararão uma relação no futuro.
Se a separação for a única solução encontrada, é necessário que ela seja transmitida pelos pais com a maior tranqüilidade possível, para que não afete tanto os filhos, e estes possam sofrer o mínimo possível. Afinal, o objetivo de todo pai e toda mãe é proteger ao máximo os filhos, nem que para isso seja necessário passar por cima de inúmeras coisas.